28 maio 2015

ONDE VOCÊ SE ESCONDE?


E agora, para onde eu vou fugir? Não, não quero que me vejam chorar. Não quero deixar refletir minhas fraquezas e dores aos quatro cantos da minha casa. Ah, como eu odeio quando alguém percebe meu rosto inchado e os meus olhos vermelhos depois das lágrimas. Como eu queria poder cavar um buraco tão fundo que me abrigasse nessas piores horas. 

Eu posso tentar fugir para o canto gelado do banheiro durante o banho, para baixo das cobertas ou ir à praia naquele final de tarde despejar mais mil gotas salgadas naquele mar de silêncios. Mas é tudo muito longe para isso agora. Tudo parece cada vez mais distante para esse meu coração apressado. 

Preciso fugir para um lugar distante, pegar a chave do carro e dirigir sem rumo pela estrada, ouvir aquela playlist que me faz ficar pior e deixar toda a angústia aqui de dentro ser derramada de mim, preciso daquele piano velho desafinado e amarelado para me ouvir chorar ao começar pelo sustenido de Sol, preciso da minha cota de livros velhos e da poeira da minha estante tão cheia de palavras, preciso fugir para onde o Sol musical me traga alguma luz, preciso respirar o ar puro que as dificuldades me impedem de viver. 


Para onde fugir quando o que te faz querer correr vai te perseguir aonde quer que for? Onde se esconder quando é você mesmo tanto o esconderijo quanto quem o procura? 

Eu me escondi aqui, nesse amontoado de palavras nada uniformes, nessa confusão de sentimento das entrelinhas. Me escondi no cantinho que mais me decifra, na voz que mais me compreende, nas pequenas frases que me definem. 

Acabei descobrindo que o lugar mais sensato para onde posso correr é para mim. 

- Gabrielle Roveda

* Texto inspirado no tema 8 do desafio 642 coisas sobre as quais escrever.



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