28 setembro 2015

Enquanto a chuva caía

Naquele dia eu realmente esqueci o que era me importar com o tempo. Não existiam horas, muito menos se contavam os minutos. A única matemática que eu entendi naquele dia chuvoso era que por mais beijos que eu ganhasse a soma nunca fechava com o tanto que eu queria mais. 

Eu queria mais de você, queria mais do seu aconchego gostoso, do braço dormente que incomodava minhas costelas ou acomodava meu pescoço. Queria mais da nossa mistura na cama, do seu jeito folgado de se portar, dos teus dedos enrolados nos fios longos do meu cabelo. Queria mais da tua risada engraçada e dos teus lábios quentes beijando minha testa. Queria esse teu olhar perdido no cômodo vazio e a tua mania de dizer que tudo fica perfeito estando ao meu lado. Até com chuva.

Não compreendi mais a minha chateação com a chuva depois do que aprendi contigo, pois naquele momento eu queria mais é que desabasse o mundo para poder ver pela janela os pingos fantasiando um dia incrível naquela cabana. O barulho passou a ser um calmante natural, ouvir as camadas de água vindas do céu e chocando com força na terra íngreme do campo me fazia sentir segura Acho que nunca mais reclamarei da chuva depois daquele dia, não se você estiver comigo novamente, claro. 

Aquele gostinho de café matinal ainda se faz presente no meu paladar e mesmo sendo o mesmo café com as mesmas três colheres de açúcar de sempre, algo naquele gosto foi tão diferente que por um acaso me lembro dele. Me lembro dele e do sabor que ficou nos teus lábios molhados do amargo de uma bebida sem doce nenhum e que mesmo faltando um toque adocicado eu queria mais daquele sabor matinal. Me lembro dele e do aroma da terra molhada no campo misturado com o cheiro daquela imensidão verde.

Hoje chove à noite e bebo um café sem açúcar para lembrar o que eu tanto quero esquecer. Você não está aqui e de alguma forma os pingos se chocando no vidro da janela não conseguem mais me acalmar. O cheiro da terra molhada me conforta por alguns segundos e mesmo sendo de manhã cedinho sinto a distância de algo. Alguém. Você, admito.

Observo a chuva cair com força e perfurar o solo sem pedir perdão e eu perfuro minha esperança achando que um dia você vai voltar e reviver novos momentos nessa cabana abandonada ou, quem sabe, adicionar um pouco de açúcar nessa vida meio amarga. 

**Texto baseado no tema de setembro - um dia chuvoso numa cabana - do projeto +QP - Mais Que Palavras** 

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