10 janeiro 2016

O tempo passou e a chuva ainda me lembra você

No meio do calado da noite, longe de casa e mais perto do mundo eu lembrei de você. Depois de já ter passado tanto tempo, de quase esquecer o som da tua risada, um sopro fino e úmido vindo da garoa que escorria do lado de fora da sacada no terceiro andar me apresentou teu riso largo novamente. E eu sorri instantânea e timidamente para você, mesmo sem te ter ali perto a aquecer minhas mãos geladas. Mesmo que minha memória me enganasse com um espectro falsificado da tua presença, eu sorri porque te imaginei ali, sentado numa sacadinha pequena, dividindo o cobertor e um apartamento minúsculo no meio de uma metrópole tumultuada sem nada para fazer.

Sem querer eu lembrei de tudo, me senti um tanto mais próxima por pensamento. Me peguei imaginando o que é que estaria fazendo naquele exato momento e porque meu pensamento havia divagado em sua direção. Em montes de prédio, mal conseguia ver o brilho distante de uma ou duas estrelas e a cidade grande roubara o brilho lunar da minha presença, sobrou o receio de nem mais os astros celestes unirem nossos olhares. Parei para me perguntar se em algum momento nesse tempo todo seu pensamento correu até mim, se, por um acaso, havia se perguntado o que eu fazia enquanto dedilhava as cordas do teu violão com uma melodia antiga.

Queria que fosse possível esquecer as lembranças mais marcantes como quando se pisca um olho, naquele milésimo de segundo. Queria toda a possibilidade de guardar no inconsciente para sempre a nossa história de amor, como um livro que foi lido até o fim e se hospedou na estante. Nada ocorre como queremos e nem nossos planos nos obedecem tão bem, ter você na memória é um fardo que aguentarei para sempre, afinal, não é fácil se livrar de quem um dia já nos fez feliz.

E sabe, uma vez eu guardava algumas mágoas, hoje guardo recordações. Fatos que chegam com a noite, junto aos pingos leves de um chuvisco de verão e que me aprisionam num modo intenso de saudade e solidão. Sou tão grata por ter feito parte da minha vida que ainda não superei a sua partida. Quem sabe um dia saiba sentir a mesma falta e se por acaso nunca aprender, espero que saiba que alguém perdida no mundo entre tantos sonhos e desilusões ainda olha para prédios agrupados e tenta encontrar o brilho da lua que conecta o nosso olhar.

2 comentários:

  1. Que texto maravilhoso.
    "[...] ter você na memória é um fardo que aguentarei para sempre, afinal, não é fácil se livrar de quem um dia já nos fez feliz."
    Sem palavras. Tu escreves bem demais da conta. Beijão

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    Respostas
    1. Quando o texto tem teu sentimento ali parece que as palavras correm pelos dedos. Muito obrigada Beca, que honra receber esse elogio de quem também admiro! ♥

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