10 março 2016

A gente se encontra por aí

Sei que não foi fácil, nunca é. A gente tenta enfiar na gaveta junto com toda aquela papelada esquecida de anos passados que se acumula cada vez mais esperando pela nossa coragem de jogar tudo fora, mas não adianta tentar esconder o que quer ser lembrado. Não adianta entregar o coração machucado para o baú do esquecimento e querer mofar os próprios sentimentos. Demorou para mim, demorou até demais para aceitar que nós já fomos e hoje não somos mais. Divididos como não pensei que seríamos e levados para lados opostos sem uma rota traçada no mapa das emoções. 

Mas sabe, caiu a ficha. É, caiu mesmo, demorou, eu sei. As coisas costumam demorar mais quanto se trata desse tipo de situação, você me conhece, sou apegada demais. Agora eu vejo, abri os olhos como um bebê quando vê o mundo pela primeira vez. Vejo que para aquele momento nossos dois corpos não se encaixariam no quebra-cabeça, ainda não estávamos moldados para o cenário. Eu entendo que foi melhor assim depois de passar meses lamentando uma vida que achava ter perdido.

Você aí com sua vidinha nova, com seus novos sonhos e aquela liberdade toda que sempre quis experimentar. Eu preferindo ficar aqui seguindo pé por pé meus antigos sonhos que hoje já estão tão mais perto de se realizarem, aqueles mesmos sonhos que dividi contigo e hoje pretendo não dividir com mais ninguém. Aprendi a seguir sozinha, caminhar com as próprias pernas sem ter alguém para me escorar. Eu sei, teve um tempo que também achei ser muito dependente, mas na dificuldade a gente se obriga a aprender.

Além do mais, a gente se encontra por aí. O mundinho só parece infinito, mas as ruas se conectam em cada esquina. Você sabe, um dia a gente se topa num barzinho, você paga uma cerveja e, bêbados, engasgamos com as palavras trancafiadas pelo tempo. Você me conta da loira que te espera no seu apartamento e eu te digo que segui melhor sem sua companhia, mas sabemos que no fundo grandes amores não se esquecem, não são deixados para trás assim tão fácil.

E entre um copo ou dois, ao som de algum blues ou rock antigo e de luzes coloridas fazendo a cabeça doer vamos enxergar aquele brilho meio perdido no olhar, aquele que antigamente foi deixado se ofuscar. E poderá ser o álcool, talvez até as luzes do próprio bar refletidas. Poxa, que mal tem reviver o passado depois de tanto tempo mesmo? Quem sabe dure o momento até o arrependimento ou talvez a noite toda, quem sabe depois não te veja mais ou talvez a noite vire uma semana, duas, até um mês. Para sempre? Ninguém sabe, mas talvez a gente se encontre por aí. Espero que sim e que não seja tão cedo dessa vez.

6 comentários:

  1. Adorei o texto, me identifiquei muito com alguns pontos :(
    Beijo grande,
    Café, Vodka e Literatura

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  2. "Ninguém sabe, mas talvez a gente se encontre por aí. Espero que sim e que não seja tão cedo dessa vez." Que amor de texto, me identifiquei muito... às vezes algumas pessoas nos marcam tanto que parece impossível esquecer, e de alguma forma, sempre queremos reencontrá-las. Quem sabe um dia.

    Lindo, como sempre <3

    Letras na Gaveta

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    Respostas
    1. Awn, Mari! Muito obrigada ♥
      Bem assim mesmo, quem sabe um dia né?

      Me abraça! ♥

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  3. que texto mais lindo *-* sempre gostei de ler crônicas assim, com esse tom monótono, mas lindo <3 às vezes as pessoas marcam tanto nossa vida que, mesmo sem querer, ficamos imaginando como seria reencontrá-las, né?
    beijos e parabéns :*
    http://memorialices.blogspot.com.br/

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    1. Awn Lu, que bom que gostou! Muito obrigada!
      Realmente ficamos nessa esperança... ♥

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