Amor é cuidado, cuidado é presença, presença é estar e estar é ser.
Ser é complexidade.
Diante dessa pequena analogia desmitificamos o amor romântico dependente do outro implantado em nós desde o útero. Não é preciso de algo ou alguém para se sentir completo, ninguém veio ao mundo pela metade.
Amar não é feito de matemática, não se soma um mais um e se resulta em amor. Não há adições, não de algum ser pelo menos. Há sim, um completo e intenso sentimento de infinidade particular que, se não desenvolvido, resulta em carência emocional. O amor começa com uma complexa e trabalhosa viagem para dentro de si buscando o ser, apenas.
Amor é cuidado, como já dito. É olhar para dentro de si, reconhecer todos os obstáculos que fizemos nosso frágil e imaturo coração enfrentar em tempos passados, tudo por não entender aquilo que a fonte dos nossos instintos dizia. Muitos dos perrengues que já nos submetemos não foram escolhas pensadas, mas sim as regras ditadas sem eira nem beira que tanto escutamos ou lemos de todos os lados e julgamos ser o modelo certo de agir somente por costumes. Cuidar da mente e entender o próprio corpo é desapegar de ditos e crenças alheias para só assim poder ser presença em si.
Cuidado é presença. Estar presente em si é entender que o que foi formou e o que vai vir formará um todo, mas o aqui, o agora é o que somos, é o tempo e espaço mais importante. Viver o momento e ter ciência de si no universo é praticar aquilo que na viagem do autoconhecimento aprendemos na teoria. Demoramos uma vida inteira e talvez nunca saberemos quem realmente somos, viver no pretérito e mistificar um futuro incerto serão somente grades de uma prisão que nós mesmos nos submeteremos. E pode ter certeza, que armadilhas internas são as piores de fugir.
O ser é constituído do ato de estar presente, não aquilo que foi ou será. Você não é o que aconteceu anos atrás e nem aquilo que almeja com tanta convicção, você pode vir a ser o seu sonho ou meta. Mas hoje, você é o momento e o seu momento merece seu amor.
Quando digo para aprender a amar a si antes de doar esse amor ao outro, digo para ter maturidade emocional e saber quem se é antes de enfrentar o corpo e a mente do outro. Um amor composto por pessoas incompletas só gera um relacionamento cheio de falhas. Amar não é um ato direcionado a algo ou alguém em especial, é apenas essência de quem sente com o coração. Sem rótulos, sem esperar do outro o que talvez, queira é de si.
Amar é transbordar o sentimento de dentro para fora e ter, diante disso, necessidade de compartilhar. É entender que não é preciso gritar para o mundo que você é a melhor pessoa da face da Terra e que por você ser o próprio amor da sua vida ou a panela que não precisa de tampa, que é totalmente autossuficiente e não depende do carinho de ninguém. Pelo contrário, isso não é amor próprio, é autonegação.
Fomos criados como seres dependentes e sociais, afinal, ninguém conquista o próprio mundo sozinho, em toda a sua história há e sempre haverá interferência externa. Se nos foi dado o dom de compreender o sentimento, diferente apenas do simples sentir, que sejamos espertos e não nos privemos do instinto primordial da nossa espécie.
Afinal, laranja nenhuma vem partida ao meio tendo que encontrar alguma metade.
- Gabrielle Roveda
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