14 outubro 2024

UM DIA EU TE CONTO

Te observei sorrir mais uma vez com as tuas incontáveis linhas de expressões diferentes manifestadas num único sorriso e vi teu olhar lotado de um misterioso universo quase inacessível me fitar com a profundidade mais esquisita que eu poderia esperar. Me observei por entre os rabiscos da tua íris desenhando o meu reflexo no teu eu sem inibições. 

Me vi em ti e te quis em mim da mesma maneira. 

Sabe, um dia me disseram que os olhos são as janelas da alma, pude ter certeza diante do teu olhar intensidade sobre a veracidade desse ditado ultrapassado enquanto te desconstruía e reconstruía diante do meu pensar para nunca ter chance de te esquecer. 

E não esqueci.

Te fiz memória em lapsos distantes de noites frias ao fechar pálpebras e te incluir nos meus diálogos mudos com a insônia. 

Te fiz presença em mim.

Apesar da carcaça insistente em aprisionar sensações e inibir o uso de diálogos internos, te vi inteiro, ali postado diante do meu corpo tão frágil ao teu toque. Paralisado no tempo, desafiando a lógica do universo, só meu por um instante.

Te manifestei em ideologias fracas que minha voz não deixa mentir. Em negações internas de que tu, por mais longe que esteja, vive aqui dentro desde aquele olhar. 

Me prendi em palavras, textos assíncronos, letras conectadas que tentam me desconectar de ti e daquele teu sorriso puxado pro lado que me ganha sem esforço. Me prendi a frases cafonas de ideias emocionalmente instáveis para trancar a enxurrada de sentimentalismo que nego te mostrar.

Talvez um dia eu te traga para o meu mundo, entre cafés amargos demais e melodias pautadas por uma voz doce enjoativa e te faça entender o meu lado também. Um dia eu te mostro meu eu incógnito e como todas as milhões de metáforas bregas fazem sentido numa vida tão sem sal. 

Um dia eu te conto do meu mundo, te mostro as letras de música engavetadas e canto com certa timidez aquelas que escrevi pra ti. Um dia te conto como é ver daqui as mesmas constelações, como todas essas estrelas apagadas brilham no caminho dos meus entornos em direção a ti. 

Um dia eu te trago para perto, na divisão do mundo entre xícaras de café ou goles de vinho amargo. Arranco mais um sorriso bobo que não te deixe ir, e se tiver sorte, a indecência inocente de nós dois permaneça por mais do que só um instante. 

Um dia eu te conto que eu sem teu riso torto não vivo, sobrevivo.

Um comentário:

  1. Que texto maravilhoso! Quanto sentimento. Amei.
    Beijos.
    www.lewestinblog.com

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