18 março 2025

TE FIZ MEU CÉU PARA PODER EM TI ORBITAR

Meu bem, tu mal sabe, 
mas o mundo se tornou pequeno 
perto das constelações que tu me trouxe pra desvendar. 

Logo comigo, 
astrônoma de caixa de pesquisa, 
marinheira de estrelas e ideias furadas, 
dona de razões duvidosas, 
tendo que decifrar teu código 
flutuando numa nave de saudade tua. 
imersa no vácuo imaterial da vontade

Difícil manter a linha sem tripulação
complicado pra caramba pilotar entre a chuva de meteoros 
e emoções que teu caos me trouxe. 

Não tem âncora nesse mar de sensações 
que me faça querer parar de adentrar tua galáxia. 
Não há ventos no oco infinito do teu universo que me faça recuar. 

Eu, que tanto gosto de velejar 
na poesia de romantismos cafonas 
tive de ser razão pra te descobrir sem fantasias. 

Perdi o eixo de equilíbrio do meu planetinha esquecido, 
causei mudanças bruscas em toda minha via láctea
questionei a importância das minhas conversas com a lua 
e me aproximei do sol com a inocência de me aquecer sem me queimar.

E queimou, sabia? 
Até faísca eu vi quando tua pele na minha tocou
ardeu nervo por nervo onde o dissipar da tua energia pelo meu corpo passeou
Mas eu, como boa colecionadora de sensações, 
gostei do teu toque buraco negro que me sugou pra si. 

Você chegou como asteroide despencando na velocidade da luz
desses que a gente confunde com estrela cadente 
e faz poesia pra alma. 
Destruiu meu mundinho no impacto da queda 
com essa tua voz calmaria 
e me deu um novo lar no teu universo complexo, 
sem nem sequer ter consciência dos fatos.

Te vi num céu pincelado de purpurina 
numa dessas noites calorosas 
enquanto trocava diálogos com a lua 
e me perguntava se de algum modo 
estava a admirar ela também. 
Esperando, talvez, que 
o brilho da grande pupila da noite pudesse, 
de alguma forma, conectar o nosso olhar. 

Te fiz meu céu, em uma galáxia aleatória, 
num mundo indecifrável onde nunca pude estar, 
te vi em luares e constelações únicas
entre planetas e astros desconhecidos
para poder em ti, vez ou outra, voltar a orbitar.

07 novembro 2024

JÁ NÃO SEI MAIS ESCREVER SEM SER SOBRE VOCÊ

É que eu já não sei mais escrever sem ser sobre você. 

Desaprendi qualquer outra escrita desde que te conheci.

As palavras só sabem me guiar ao teu encontro.

Tudo tem teu eu escancarado nas entrelinhas.

E eu já não sei mais ser poeta sem recitar teu nome.

Tudo acaba sendo você mesmo que nem seja sobre você.

Tu é meu bloqueio criativo.

As letras expressam o quanto meu eu só sabe transbordar você.

E infelizmente, meu eu poeta não mente.

É nos versos que te trago para perto.

É nas vírgulas que te faço eterno.

Mesmo que você já nem exista mais aqui.

E a distância seja pautada pela presença ofuscada.

Te gostar se tornou silencioso.

E esse nosso silêncio anda gritando cada vez mais alto aqui dentro.

Mas não posso gritar.

Então, te escrevo.

Como se no oculto a gente pudesse conversar.

Só que na poesia o grito é mudo,

E o eco é sempre lancinante.

14 outubro 2024

UM DIA EU TE CONTO

Te observei sorrir mais uma vez com as tuas incontáveis linhas de expressões diferentes manifestadas num único sorriso e vi teu olhar lotado de um misterioso universo quase inacessível me fitar com a profundidade mais esquisita que eu poderia esperar. Me observei por entre os rabiscos da tua íris desenhando o meu reflexo no teu eu sem inibições. 

Me vi em ti e te quis em mim da mesma maneira. 

Sabe, um dia me disseram que os olhos são as janelas da alma, pude ter certeza diante do teu olhar intensidade sobre a veracidade desse ditado ultrapassado enquanto te desconstruía e reconstruía diante do meu pensar para nunca ter chance de te esquecer. 

E não esqueci.

Te fiz memória em lapsos distantes de noites frias ao fechar pálpebras e te incluir nos meus diálogos mudos com a insônia. 

Te fiz presença em mim.

Apesar da carcaça insistente em aprisionar sensações e inibir o uso de diálogos internos, te vi inteiro, ali postado diante do meu corpo tão frágil ao teu toque. Paralisado no tempo, desafiando a lógica do universo, só meu por um instante.

Te manifestei em ideologias fracas que minha voz não deixa mentir. Em negações internas de que tu, por mais longe que esteja, vive aqui dentro desde aquele olhar. 

Me prendi em palavras, textos assíncronos, letras conectadas que tentam me desconectar de ti e daquele teu sorriso puxado pro lado que me ganha sem esforço. Me prendi a frases cafonas de ideias emocionalmente instáveis para trancar a enxurrada de sentimentalismo que nego te mostrar.

Talvez um dia eu te traga para o meu mundo, entre cafés amargos demais e melodias pautadas por uma voz doce enjoativa e te faça entender o meu lado também. Um dia eu te mostro meu eu incógnito e como todas as milhões de metáforas bregas fazem sentido numa vida tão sem sal. 

Um dia eu te conto do meu mundo, te mostro as letras de música engavetadas e canto com certa timidez aquelas que escrevi pra ti. Um dia te conto como é ver daqui as mesmas constelações, como todas essas estrelas apagadas brilham no caminho dos meus entornos em direção a ti. 

Um dia eu te trago para perto, na divisão do mundo entre xícaras de café ou goles de vinho amargo. Arranco mais um sorriso bobo que não te deixe ir, e se tiver sorte, a indecência inocente de nós dois permaneça por mais do que só um instante. 

Um dia eu te conto que eu sem teu riso torto não vivo, sobrevivo.

24 setembro 2024

QUERO MERGULHAR EM TI SEM PRECISAR VOLTAR

Sinto que estou sempre te perdendo entre os dedos, como quem tenta segurar a água do mar na palma das mãos e não consegue. Te sinto deslizar pra longe, escorregar entre quaisquer resquícios de fuga que encontra pelo caminho, na busca incessante de voltar ao seu imenso oceano particular

Te sinto ir, querendo voltar

Como se no balanço das ondas, ao mesmo tempo, que me joga para longe, volta para me buscar

E nessa dança instável das tuas idas e vindas me vejo refém da maciez da areia e de joelhos fracos que se travam na busca de encontrar algum ponto de equilíbrio para não desabar

E eu só posso confiar em mim nessa imensidão de você. Em mim e em um joelho travado que parece querer quebrar a cada golpe certeiro teu

Tu me desequilibra, mas eu não me afasto. 

Porque a verdade é que não quero estar na beira lutando contra a tua maré, se pudesse mergulhar em ti, já estaria em alto mar faz tempo

Se meus joelhos deixassem, não tentaria só te agarrar com a ponta dos dedos na tentativa fútil de manter um pouco do teu eu entre as minhas mãos. 

Se meus joelhos deixassem até barco de papel resistiria a tempestades para que eu pudesse navegar em você.

Se meus joelhos deixassem, se renderiam ao menor golpe teu e confiaram no meu próprio corpo que sabe perfeitamente como nadar nas tuas intensidades caóticas sem se afogar.

Se meus joelhos deixassem não temeriam a frieza do tempo, porque no fundo do oceano a densidade torna a água amena. Porque mesmo que o sol não alcance a superfície e a aqueça, sempre tem uma corrente de calor no fundo que te acalenta e conforta

O problema nunca é mergulhar em dias frios, o problema é sempre o vento lá fora quando a gente sai da água. Mas quando se trata de mergulhar em ti, quero imergir sem precisar ter que voltar pra terra.

05 setembro 2024

QUERIA PODER TE TER SEM DEVANEIOS

Leia escutando Peer Pressure - James Bay ft. Julia Michaels
Fechei os olhos e reconstruí teu eu feito pedaços.

Ali, bem diante das minhas pálpebras fechadas te relembrei inteiro.

Tu se fez presença em mim, no meu mundo paralelo de fantasias contraditórias. 

Nesse inventário imaginado que por falta de coragem não materializo no mundo real, onde suprimo todas as milhões de expectativas que construo e desfaço para poder fazer morada num mundo irreal que me acalenta e conforta.

Tu me é distância e presença ao mesmo tempo. 

Eu te imagino e recrio em vozes poéticas como se por consequência de um grito emudecido pudesse te fazer estar comigo em qualquer noite de insônia.

Eu te transformo em poesia para não precisar expor que talvez eu te queira aqui para compartilhar bobagens que são perda de tempo dentro de uma rotina um tanto frenética demais, enquanto tu me acaricia o cabelo e eu descanso no teu peito sem pressa pra partir

Talvez eu te queira aqui para ouvir tua voz sem estrutura bem próxima ao meu ouvido, tua risada gostosa a ocupar os ecos do cômodo, tuas mãos a deslizarem lentas pelas minhas costas, teu eu descompassado em compasso com o meu.

Talvez eu te queira aqui apenas tempo o suficiente para poder traçar tuas entrelinhas enquanto tu me conta uma bobagem aleatória que só faz sentido na tua cabeça e eu sorrio fingindo entender, mas me mantenho hipnotizada nas tuas linhas de expressão fazendo questão de gravar na memória cada detalhe para não ter chances de esquecer.

Talvez eu te queira aqui pra te descobrir entre erros e acertos, em pequenos defeitos que te tornam ainda mais atraente e surpreendem qualquer uma das minhas expectativas.

Talvez eu te queira aqui, mas tenha medo de me apaixonar e viva nessa inconstância de ir e vir sem pertencer

Talvez, por sorte, em uma dessas idas e vindas, a gente, por fim, permaneça.

Perdão é que não sei dizer algo sem ser clichê, sem parecer ultrapassada, nessas frases desconexas e confusas que retratam um anseio que se cala por não saber falar, nem o que falar.

A verdade é que eu te queria aqui, mas as palavras fogem ao tentar te dizer, enquanto insisto em viver num mundo inventado porque nele acredito que tenho controle daquilo que crio e recrio.

Nele é mais fácil lidar com o desconhecido sem parecer estranha, nele eu te invento e te elimino dos meus pensamentos quando bem quero sem precisar descongelar um coração receoso.

Sem precisar me envolver e te envolver nessa minha mente caótica, numa vida turbulenta tão sem sal e expor minhas milhões de imperfeições ou te deixar perceber que simplismente, talvez, eu não valha a pena, afinal.

É mal de escritor... algo como ossos do ofício, eu acho. Essa coisa de inventar mundos onde o coração possa habitar sem medo. 

Essa coisa de viver uma vida dupla entre a realidade e a ficção para não precisar ter que lidar com o redemoinho de fios elétricos entrando em curto numa mente conturbada que prefere arriscar amar só no papel.

 ... queria conseguir te dizer o que passa de verdade, sem toda essa enrolação.

Logo eu, que sei tão bem como brincar com as palavras não consigo expressar em frase nenhuma que não é sobre o teu sorriso que me faz sorrir sem perceber que hoje eu te escrevo.

Nem sobre esse teu jeito bonito de arrumar o cabelo que me tira de órbita ou a forma como tu me parece ser transparente demais na minha presença.

Não é sobre tua mão na minha ou teu perfume barato, nem sobre teu beijo rápido que minha boca tem saudadeNão é sobre essa paixão bobinha, quase adolescente, que surgiu sem pretensão e virou poesia

Não, não é!

É sobre achar um jeito de te dizer em entrelinhas bagunçadas, disfarçadas de poema, que o que eu realmente quero é te ter sem precisar, em devaneios, ter que te inventar.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...