14 abril 2024

TU CABE TÃO BEM AQUI


Todo domingo te coloco pra fora.

Te desinternalizo de mim.

Quase como uma ressaca imoral.

Todo domingo te recrio como se pudesse sentir tua pele a me tocar de leve pela manhã.

Tuas mãos firmes sobre a minha cintura a me levar pra perto encaixada no teu corpo quente. E teu beijo doce.

Todo domingo te construo inato.

Teus dedos embolados no meu cabelo, tua voz meio rouca balbuciando algum assunto aleatório, meu braço descansado no teu peito e o som do teu coração calmo como trilha sonora do nosso nós.

Todo domingo te invento em minúcias enquanto o cheiro de café preenche a casa vazia e olho para o outro lado da mesa te imaginando ali com a cara ainda inchada e teu jeito bonito de esfregar os olhos. 

O teu olhar a me fitar num misto de desejo e carinho, a xícara entre os dedos e teus lábios exalando o gosto do café amargo.

Todo domingo te incluo na rotina, porque nos domingos eu tenho tempo pra parar e te pensar inteiro.

Com calma, com alma.

É que tu cabe tão bem aqui.

No meio das minhas bagunças organizadas, julgando minha coleção de DVDs, meu violão a pegar pó ou meu gosto duvidável pra música.

Tu cabe tão bem na minha casa tanto quanto no meu abraço.

No cafuné despretensioso, na cócega gostosa da tua barba na minha bochecha ou no jeito como minhas mãos gostam do contorno do teu rosto a te acariciar a face.

É que o nosso encaixe é fogo. 

O beijo é caminho

Nosso abraço, conforto.

E eu já não sei mais te fazer não caber em nós.

11 abril 2024

SEJA MAIS QUE A MINHA INSÔNIA

Quando fechei os olhos continuei visualizando a forma como os cantos da sua boca levantavam levemente ao projetar o início de um sorriso descontraído ou a forma como arqueava as sobrancelhas só para mostrar que aquilo que eu falava era realmente algo interessante. 

Rolei na cama por mais incontáveis segundos ignorando o horário no celular, não conseguindo descansar minha cabeça de você. Sem conseguir dormir ao imaginar se, talvez, apenas talvez, estivesse pensando em mim naquele exato momento também.

Eu vi seu rosto passear pelas alucinações da minha mente inquieta que te queria e não te queria ali, numa guerra contraditória. Vi teu sorriso vagar entre a insônia de uma madrugada regada a tempestades de sentimentos tão confusos. 

É estranho como eu te tenho tão perto mesmo que esteja tão longe.  

Eu senti saudade sua e nem percebi quando foi que comecei a deixar meu coração sentir tanto por você sem nem primeiro conversar com a minha razão

Logo eu, que já te quis por tempos pré determinados, hoje quero quebrar o relógio e pausar o mundo só para viver essa saudade inquieta, pra te ter aconchegado comigo, de braços enlaçados, olhares focados e corações inquietos. 

Por favor, só peço que seja mais que a minha insônia

Seja mais que simplesmente a lucidez de uma saudade de madrugadas esquecidas

Seja mais que a minha vontade de te ver dia após dia. 

Vem e me diz que também faço parte do teu mundo. Confessa que algumas noites dessas também virei tua falta de sono e que ao fechar os olhos lembrou um pouquinho de algum detalhe meu

Diz que não é só o meu coração que é bobinho, que o teu também se perdeu quando nosso olhar se encontrou

Vem aqui pertinho, encaixa teu corpo no meu e promete pra mim que hoje você não será só mais uma noite de insônia, que vai trocar o quentinho das tuas cobertas pelo calor do meu abraço.

Vem e divide comigo essas angústias que anda guardando há tempos, me conta do teu passado e dos planos incríveis que ainda nem tem certeza querer. Deixa eu conhecer além da forma de um único sorriso, mostra que teu jeito tão sem jeito pode me encantar ainda mais. 

Seja mais que a minha insônia...

Só por hoje, talvez por amanhã... quem sabe também depois.

26 março 2024

SINTO FALTA DO TEU TODO

Quero poder dizer que sinto saudade de ti inteiro, sem inibir aquilo que mora aqui dentro.

Quando digo que tenho saudades tua, tenho saudades do teu eu completo.

Não apenas sinto falta do teu calor que me deixa sem ar, do nosso encaixe, do beijo que combina tão bem ou da tua mão na minha nuca que me arrepia inteira. 

Sinto falta do teu cheiro no travesseiro, do cabelo bagunçado, do lençol fora do lugar, da minha pele vermelha marcada pelo prazer e do teu gosto. Mas minha saudade não se resume ao nosso nós composto de quatro paredes e algumas desventuras.

Eu sinto falta do teu todo.

E talvez desse nosso nós que eu invento em estrofes e cifras ocultas.

Sinto saudade da tua expressão travessa me engolindo com o olhar sob a meia luz do quarto e também do teu rosto sereno a me fitar calmo, como se dissesse em micro expressões que meu eu é teu conforto no enlaçar do nosso abraço.

Sinto saudade do teu olhar sem vergonha me fitando como quem não perde a sede da nossa mistura indecente, mas também da confiança que teus olhos marejados em dias difíceis deposita quando tu me explana um ou dois desabafos.

Sinto saudade da tua voz em ritmo acelerado ao me dizer sacanagem, mas também das tuas palavras serenas no meu ouvido enquanto acaricia o meu cabelo e me deixa adormecer no teu peito.

Sinto falta das nossas mãos enlaçadas e do toque quente da tua pele na minha...

Do frio na barriga a cada reencontro e da euforia dos nossos corpos dançando em compasso ritmado...

Do teu abraço conforto que me envolve inteira e da tua mão firme encaixada na minha cintura...

De morder de leve teus lábios e do teu beijo macio na minha testa que me causa tanta segurança em estar ali, presente, contigo...

É que, sim, sinto saudade dessa paixão ardente...

Mas, vez ou outra, também sinto saudade desse rascunho de amor que se fantasia em gestos inconfidentes.

11 março 2024

ME REFAÇO EU-LÍRICO

Tem coisas que não sei como dizer, então escrevo.

Escrevo porque ao colocar uma letra após a outra, numa sequência nem sequer programada, vou entendendo o que eu mesma pretendo me dizer.

É como se o papel fosse um psicólogo mudo que me enche de questionamentos em uma folha em branco e eu, com minha ansiedade catastrófica, precisasse preencher com pensamentos.

Ali me desnudo.

No papel eu fico nua.

Um processo íntimo de uma guerra civil interna em que meu ego trava batalhas morais com meu insconciente mais oculto e inacessível.

Enquanto os olhos fixos no branco sufocante despem palavras que remontam metáforas, as quais até mesmo eu não consigo entender a complexidade.

É sobre dentro. E dentro é um labirinto que arrepia explorar. 

Pra falar de dentro é preciso artimanhas e rodeios que nem mesmo a mão por trás da arte consegue decifrar.

Danço a caneta sobre as linhas do papel como uma bailarina num solo improvisado enquanto fecho os olhos, respiro fundo e deixo a euforia mover meu corpo no seu ritmo.

A mente ganha um véu esbranquiçado que nada diz.

Um manto silencioso gostoso de escutar.

Não há vozes, não há gritos, não há um mundo cuspindo certo ou errado.

.

E esse "haver" é a pura sensação de estar vivo.

No papel eu re-vivo.

Reencontro meu eu perdido em dogmas, crenças e culturas infiltradas no ar que respiro.

No papel eu me espelho.

Vejo a perspectiva de todos os meus lados ocultos.

Como se pudesse me descrever em perguntas enquanto olho para dentro e posso me ler em resposta...

É nessas rasuras que não rimam, não vendem e não descem redondo em leitores alheios onde me renovo.

Onde me refaço eu-lírico para sobreviver poeta num mundo escasso de poesia.


(Gabrielle Roveda)

13 janeiro 2024

É QUE TE VEJO CABER EM MIM

Leia ouvindo: The One - Kodaline
Às vezes eu te construo aqui dentro
Como se por certos momentos tu se fizesse presença no meu eu.

É que te vejo caber em mim.

Nas minhas manias estranhas que se parecem com as tuas.
No jeito parecido de ver a vida.
Nas minhas birras que tu sabe desmanchar com um sorriso bobo.
Na forma como tu me deixa confortável na tua presença.

Te vejo caber no meu dia a dia.

No meu calendário minuciosamente organizado e cheio de horas preenchidas que não bastam pra te fazer não caber.
É que tu preenche todos os horários não marcados.
E inunda de ti meus pensamentos como se estivesse comigo a todo instante.

E te vejo caber em mim em detalhes sutis que chegam a ser engraçados.
No nosso silêncio não combinado que combina tão bem.
Na necessidade de aproveitar o ócio em interesses que precisam fazer algum sentido.
Te vejo caber na minha rotina tão parecida e ao mesmo tempo tão diferente da tua.

Te vejo dentro dos meus espaços vagos.

No vazio dos meus braços que guardam lugar pro teu abraço.
No meu corpo que anseia pelo teu enquanto enlaça o travesseiro em noites frias.
No lado oposto da cama esperando pelo teu calor a aquecer o lençol e quem sabe, meu coração.
Na minha imaginação que te constrói presença pela manhã rindo sem pestanejar... 
Como se pudesse ver minha cara amassada logo cedo e meus passos tortos antes que eu consiga abrir os olhos só pra te encarar com um beiço enorme esperando por um beijo de bom dia antes de preencher a casa com cheirinho de café.

Te vejo em mim, nos meus dias e entre nossos lapsos.

No jeito bonito como tua mão enlaça a minha.
No toque carinhoso que se destaca entre ações inconscientes.
No sorriso genuíno durante o beijo.
No jeito como teu corpo parece se encaixar ao meu num abraço apertado que não quer soltar.
Na profundidade do olhar de quem quer fazer cada minuto durar. 
No sentimento emudecido.
E nas dezenas de palavras não ditas.
Que pode ser que nunca ganhem voz.

E em ti, será que cabe meu eu?
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