Leia escutando To Good At Goodbyes - Sam Smith |
te faço poesia sem permissão alguma, perdão
te internalizo entre versos descontextualizados que só eu entendo
faço arte com a lembrança que carrego no peito da tua voz rouca e pincelo em aquarela planetas distantes com teu rosto num universo infinito o qual não alcanço
retrato estrelas, constelações e detalhes minúcias que da tua imagem nunca consigo esquecer
teu sorriso de canto tal qual sol da via láctea, centro gravitacional que me atraí para ti
te construo galáxia no meu mundinho sem sal como se tu feito astronômico pudesse de fato me deixar orbitar
mas não orbito, seja por teimosia ou receio
não desacoplo desse eu distância que inventei de mim
sou feito astronauta, ando perdida em gravidade zero bem longe de casa
luto para retornar à estabilidade enquanto o alerta de oxigênio apita sem descansar entre uma tosse e outra
bip... bip... bip...
a garganta seca, os olhos marejados
encaro o horizonte através do capacete num lapso de suicídio mental querendo, na verdade, não partir dessa ilusão
o vidro desfocando pela fumaça tragada por pulmões desgastados, a paranoia constante se esvaindo em pensamentos interligados que já não fazem mais sentido
a chuva e o vento em redemoinhos dentro de mim marcando o êxtase das borboletas na tua ausência
me refaço planeta atmosférico e revivo outra vez
sobrevivo
aterrizo na minha sarcástica zona de conforto desconfortável
recorro ao mundo real, àquilo que desconheço e finjo entender
aterro meus pés nesse chão caótico familiar demais
estou em casa outra vez, mas não queria estar
a cama vazia, o pó acumulando nos livros, o cheiro de incenso de canela pairando no ar, o vidro embaçado enquanto o úmido da noite lentamente se transforma em mofo bem diante dos meus olhos
o mesmo quarto calado, o mesmo cárcere humano
sinto tua falta a aquecer meus pés gelados e talvez o coração
mas teu eu me é caminho longo, viagem interestelar
tal qual plutão
distante...
questionável...
talvez frio demais para poder existir
(Gabrielle Roveda)
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