Leia escutando Peer Pressure - James Bay ft. Julia Michaels |
Ali, bem
diante das minhas pálpebras fechadas te relembrei inteiro pouco a pouco.
O sorriso
solto... os fios de cabelo espalhados pelo rosto lutando contra os contras do
vento e teus olhos... aquele olhar, aquele mesmo brilho bonito
que eu insisto em tentar decifrar cada vez que te fito.
Tu se fez presença em mim, no meu mundo paralelo de fantasias contraditórias.
Nesse inventário imaginado que por falta de coragem não materializo no mundo real, onde suprimo todas as milhões de expectativas que construo e desfaço para poder fazer morada num mundo irreal que me acalenta e conforta.
Tu me é distância e presença ao
mesmo tempo.
Eu te
imagino e recrio em vozes roucas compassadas como se por consequência
de um grito emudecido pudesse te fazer estar comigo em qualquer noite de insônia, sem
precisar expor que te quero aqui a compartilhar bobagens que são perda
de tempo dentro de uma rotina um tanto frenética demais.
Mas a
verdade mesmo é que queria teu eu compartilhado com o meu.
Queira
ouvir o som da tua voz sem estrutura bem próxima ao meu ouvido, a tua
risada gostosa a ocupar os ecos do cômodo, o teu eu descompassado em compasso com o
meu eu que se desestrutura todo ao te ver sorrir.
Queria traçar
tuas entrelinhas enquanto tu me conta uma bobagem aleatória que só faz sentido
na tua cabeça e eu sorrio fingindo entender enquanto me mantenho hipnotizada
nas tuas linhas de expressão que faço questão de gravar na memória para não ter chances de esquecer.
Enquanto
te descubro entre erros e acertos, em pequenos defeitos que te tornam ainda mais atraente e surpreendem qualquer uma das minhas expectativas.
Não sei dizer algo sem ser clichê, sem parecer ultrapassada nos nuances de detalhes que a vida não mais dá valor, nessas frases desconexas e confusas que retratam um anseio que se cala por não saber falar, nem o que falar.
É que eu te queria aqui, mas as palavras fogem ao tentar te dizer, enquanto insisto em viver num mundo inventado onde acho que tenho controle daquilo que crio e recrio.
Nele
é mais fácil lidar com o desconhecido sem parecer estranha,
nele eu te invento e te elimino dos meus pensamentos quando bem quero sem precisar
descongelar um coração receoso.
Sem
precisar me envolver e te envolver nessa minha mente caótica, numa vida turbulenta tão sem sal e expor minhas milhões de imperfeições ou te deixar perceber que simplismente talvez
eu não valha a pena, afinal.
É mal de escritor, sabe... algo como ócios do ofício, não sei. Essa coisa de inventar mundos onde o coração possa habitar e viver uma vida dupla entre a realidade e a ficção para não precisar ter que lidar com o redemoinho de fios elétricos entrando em curto numa mente conturbada.
... queria enfim conseguir te dizer o que passa de verdade, sem toda essa enrolação.
Logo eu, que sei tão bem como brincar com as palavras não consigo expressar em
frase nenhuma que não é sobre o teu sorriso que me faz sorrir sem perceber que
hoje eu te escrevo.
Nem sobre esse teu jeito bonito de arrumar o cabelo que me tira de órbita ou a forma como tu me parece ser transparente demais na minha presença.
Não é sobre tua mão na minha ou teu perfume barato, nem sobre teu beijo rápido que minha boca tem saudade. Não é sobre essa paixão bobinha quase adolescente que surgiu sem pretensão e virou poesia. Não, não é!
É só sobre achar um jeito de te dizer em entrelinhas bagunçadas disfarçadas de poema que o que realmente eu quero é um pouco do teu eu sem precisar, em devaneios, ter que te inventar.
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