26 março 2024

SINTO FALTA DO TEU TODO

Quero poder dizer que sinto saudade de ti inteiro, sem inibir aquilo que mora aqui dentro.

Quando digo que tenho saudades tua, tenho saudades do teu eu completo.

Não apenas sinto falta do teu calor que me deixa sem ar, do nosso encaixe, do beijo que combina tão bem ou da tua mão na minha nuca que me arrepia inteira. 

Sinto falta do teu cheiro no travesseiro, do cabelo bagunçado, do lençol fora do lugar, da minha pele vermelha marcada pelo prazer e do teu gosto. Mas minha saudade não se resume ao nosso nós composto de quatro paredes e algumas desventuras.

Eu sinto falta do teu todo.

E talvez desse nosso nós que eu invento em estrofes e cifras ocultas.

Sinto saudade da tua expressão travessa me engolindo com o olhar sob a meia luz do quarto e também do teu rosto sereno a me fitar calmo, como se dissesse em micro expressões que meu eu é teu conforto no enlaçar do nosso abraço.

Sinto saudade do teu olhar sem vergonha me fitando como quem não perde a sede da nossa mistura indecente, mas também da confiança que teus olhos marejados em dias difíceis deposita quando tu me explana um ou dois desabafos.

Sinto saudade da tua voz em ritmo acelerado ao me dizer sacanagem, mas também das tuas palavras serenas no meu ouvido enquanto acaricia o meu cabelo e me deixa adormecer no teu peito.

Sinto falta das nossas mãos enlaçadas e do toque quente da tua pele na minha...

Do frio na barriga a cada reencontro e da euforia dos nossos corpos dançando em compasso ritmado...

Do teu abraço conforto que me envolve inteira e da tua mão firme encaixada na minha cintura...

De morder de leve teus lábios e do teu beijo macio na minha testa que me causa tanta segurança em estar ali, presente, contigo...

É que, sim, sinto saudade dessa paixão ardente...

Mas, vez ou outra, também sinto saudade desse rascunho de amor que se fantasia em gestos inconfidentes.

11 março 2024

ME REFAÇO EU-LÍRICO

Tem coisas que não sei como dizer, então escrevo.

Escrevo porque ao colocar uma letra após a outra, numa sequência nem sequer programada, vou entendendo o que eu mesma pretendo me dizer.

É como se o papel fosse um psicólogo mudo que me enche de questionamentos em uma folha em branco e eu, com minha ansiedade catastrófica, precisasse preencher com pensamentos.

Ali me desnudo.

No papel eu fico nua.

Um processo íntimo de uma guerra civil interna em que meu ego trava batalhas morais com meu insconciente mais oculto e inacessível.

Enquanto os olhos fixos no branco sufocante despem palavras que remontam metáforas, as quais até mesmo eu não consigo entender a complexidade.

É sobre dentro. E dentro é um labirinto que arrepia explorar. 

Pra falar de dentro é preciso artimanhas e rodeios que nem mesmo a mão por trás da arte consegue decifrar.

Danço a caneta sobre as linhas do papel como uma bailarina num solo improvisado enquanto fecho os olhos, respiro fundo e deixo a euforia mover meu corpo no seu ritmo.

A mente ganha um véu esbranquiçado que nada diz.

Um manto silencioso gostoso de escutar.

Não há vozes, não há gritos, não há um mundo cuspindo certo ou errado.

.

E esse "haver" é a pura sensação de estar vivo.

No papel eu re-vivo.

Reencontro meu eu perdido em dogmas, crenças e culturas infiltradas no ar que respiro.

No papel eu me espelho.

Vejo a perspectiva de todos os meus lados ocultos.

Como se pudesse me descrever em perguntas enquanto olho para dentro e posso me ler em resposta...

É nessas rasuras que não rimam, não vendem e não descem redondo em leitores alheios onde me renovo.

Onde me refaço eu-lírico para sobreviver poeta num mundo escasso de poesia.


(Gabrielle Roveda)

13 janeiro 2024

É QUE TE VEJO CABER EM MIM

Leia ouvindo: The One - Kodaline
Às vezes eu te construo aqui dentro
Como se por certos momentos tu se fizesse presença no meu eu.

É que te vejo caber em mim.

Nas minhas manias estranhas que se parecem com as tuas.
No jeito parecido de ver a vida.
Nas minhas birras que tu sabe desmanchar com um sorriso bobo.
Na forma como tu me deixa confortável na tua presença.

Te vejo caber no meu dia a dia.

No meu calendário minuciosamente organizado e cheio de horas preenchidas que não bastam pra te fazer não caber.
É que tu preenche todos os horários não marcados.
E inunda de ti meus pensamentos como se estivesse comigo a todo instante.

E te vejo caber em mim em detalhes sutis que chegam a ser engraçados.
No nosso silêncio não combinado que combina tão bem.
Na necessidade de aproveitar o ócio em interesses que precisam fazer algum sentido.
Te vejo caber na minha rotina tão parecida e ao mesmo tempo tão diferente da tua.

Te vejo dentro dos meus espaços vagos.

No vazio dos meus braços que guardam lugar pro teu abraço.
No meu corpo que anseia pelo teu enquanto enlaça o travesseiro em noites frias.
No lado oposto da cama esperando pelo teu calor a aquecer o lençol e quem sabe, meu coração.
Na minha imaginação que te constrói presença pela manhã rindo sem pestanejar... 
Como se pudesse ver minha cara amassada logo cedo e meus passos tortos antes que eu consiga abrir os olhos só pra te encarar com um beiço enorme esperando por um beijo de bom dia antes de preencher a casa com cheirinho de café.

Te vejo em mim, nos meus dias e entre nossos lapsos.

No jeito bonito como tua mão enlaça a minha.
No toque carinhoso que se destaca entre ações inconscientes.
No sorriso genuíno durante o beijo.
No jeito como teu corpo parece se encaixar ao meu num abraço apertado que não quer soltar.
Na profundidade do olhar de quem quer fazer cada minuto durar. 
No sentimento emudecido.
E nas dezenas de palavras não ditas.
Que pode ser que nunca ganhem voz.

E em ti, será que cabe meu eu?

12 dezembro 2023

ME CONTA DO TEU EU

Me conta do teu eu, me deixa descobrir tuas entrelinhas.

Deitar no teu peito e ouvir teu coração acelerar as batidas enquanto tua mão na minha cria conexões das quais nem sei se quero ter.

Me deixa te conhecer.

Te descobrir sem receios.

Me conta do teu dia, da teu estresse rotineiro e das coisas que não diria pra mais ninguém no mundo.

Me mostra teu lado oculto sem medo do que eu possa achar. 

Quero te conhecer sem leis.

Sem inibições.

Te perceber inteiro, com todas essas tuas manias estranhas e defeitos incontáveis que eu posso talvez nunca querer aguentar.

Me conta do teu eu mais intríseco

Dos teus medos.

Anseios.

Sonhos.

E dos desejos mais improvavéis.

Me mostra quem tu é sem máscaras sociais. Sem uma pose pra manter, a barba feita, o cabelo arrumado ou a roupa perfeitamente alinhada. 

Quero te conhecer livre de qualquer dogma que te prenda.

Me apresenta teu eu sem essas parafernalhas todas que limitam.

Me mostra teu eu mais íntimo.

E faz de nós: intimidade.

07 novembro 2023

QUANDO ME PERCEBI ESTAVA PENSANDO EM VOCÊ

Leia escutando: One Life - James Bay

Quando me percebi estava pensando em você...

E naquele seu jeito que me deixa sem jeito só com o olhar.

Acabei me perguntando se você, por um acaso, já se percebeu pensando em mim também.

Me percebi querendo te encontrar, cruzar meu olhar com o teu e me ver pequeninha dentro da tua pupila que fica enorme quando nossos olhos se encontram.

Quando percebi estava conversando com o vento em pensamento fingindo que entre um assovio e outro tu me correspondia quaisquer dilemas que eu ousasse me impor.

Me percebi querendo te ouvir tagarelar sobre assuntos aleatórios que, sendo bem sincera, ouço bem pouco, pois ao te ouvir falar sempre me perco entre a curvinha do teu sorriso e o teu brilho no olhar que me roubam toda a atenção.

Queria eu ser uma dessas lembranças gostosas que visitam a tua mente vez ou outra, assim como você é para mim. 

Queria eu que, por um momento ou outro, tu se percebesse a pensar em mim também.

Me percebi querendo cuidar dos teus anseios, te enlaçar num abraço apertado e descobrir todas as partes do teu eu que desconheço.

E numa noite qualquer entrelaçar nossas histórias, acabar dividindo meu eu com o teu e meu vinho barato favorito.

Me percebi querendo saber do teu eu mais íntimo sem em nós haver intimidade. 

Decifrar não só teu corpo.

Tuas marcas... Sensações... E cicatrizes...

Mas conhecer tua mente.

Teus sonhos. 

Teus medos. 

Manias... 

defeitos.

Me peguei pensando que talvez eu andasse é te percebendo mais do que deveria e não devesse te perceber tanto assim. 

Mas, será que por sorte, ou golpe do destino... Tu, talvez, não tenha se percebido a pensar em mim também?


(Gabrielle Roveda)

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