Mostrando postagens com marcador Crônicas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Crônicas. Mostrar todas as postagens

14 outubro 2024

UM DIA EU TE CONTO

Te observei sorrir mais uma vez com as tuas incontáveis linhas de expressões diferentes manifestadas num único sorriso e vi teu olhar lotado de um misterioso universo quase inacessível me fitar com a profundidade mais esquisita que eu poderia esperar. Me observei por entre os rabiscos da tua íris desenhando o meu reflexo no teu eu sem inibições. 

Me vi em ti e te quis em mim da mesma maneira. 

Sabe, um dia me disseram que os olhos são as janelas da alma, pude ter certeza diante do teu olhar intensidade sobre a veracidade desse ditado ultrapassado enquanto te desconstruía e reconstruía diante do meu pensar para nunca ter chance de te esquecer. 

E não esqueci.

Te fiz memória em lapsos distantes de noites frias ao fechar pálpebras e te incluir nos meus diálogos mudos com a insônia. 

Te fiz presença em mim.

Apesar da carcaça insistente em aprisionar sensações e inibir o uso de diálogos internos, te vi inteiro, ali postado diante do meu corpo tão frágil ao teu toque. Paralisado no tempo, desafiando a lógica do universo, só meu por um instante.

Te manifestei em ideologias fracas que minha voz não deixa mentir. Em negações internas de que tu, por mais longe que esteja, vive aqui dentro desde aquele olhar. 

Me prendi em palavras, textos assíncronos, letras conectadas que tentam me desconectar de ti e daquele teu sorriso puxado pro lado que me ganha sem esforço. Me prendi a frases cafonas de ideias emocionalmente instáveis para trancar a enxurrada de sentimentalismo que nego te mostrar.

Talvez um dia eu te traga para o meu mundo, entre cafés amargos demais e melodias pautadas por uma voz doce enjoativa e te faça entender o meu lado também. Um dia eu te mostro meu eu incógnito e como todas as milhões de metáforas bregas fazem sentido numa vida tão sem sal. 

Um dia eu te conto do meu mundo, te mostro as letras de música engavetadas e canto com certa timidez aquelas que escrevi pra ti. Um dia te conto como é ver daqui as mesmas constelações, como todas essas estrelas apagadas brilham no caminho dos meus entornos em direção a ti. 

Um dia eu te trago para perto, na divisão do mundo entre xícaras de café ou goles de vinho amargo. Arranco mais um sorriso bobo que não te deixe ir, e se tiver sorte, a indecência inocente de nós dois permaneça por mais do que só um instante. 

Um dia eu te conto que eu sem teu riso torto não vivo, sobrevivo.

21 junho 2023

FOI O FRIO NA BARRIGA, DOUTOR

Começou com um arrepio. Um frio na barriga que se prolongou para a espinha, como quando algo pode dar errado e o medo surge percorrendo as sinapses e causando sensações estranhas.

Essa também foi estranha, mas não como a do medo.

Foi um arrepio gostoso, como se o geladinho que sobe pelo corpo tivesse construindo algo, algo que não era sobre fugir ou ficar alerta. Mas sobre borboletas que viriam a congelar em breve.

E construiu. 

Construiu uma armadura de gelo, um pacote blindado para um órgão que bombeia calor.

E acho que no fim, foi sim sobre ficar alerta ou fugir

Ou sobre não gostar muito de borboletas, talvez.

É que meu coração começou a gelar ainda com esse frio na barriga, Doutor.

E quando vi, já era tarde demais.

16 junho 2022

É QUE, TALVEZ, EU TE QUEIRA AQUI


A noite agradável beijava as ondas em forma de uma neblina fantasiada de maresia. O cheiro do mar e o vento gelado preenchiam os espaços reservados às sensações.

O céu estrelado esperava a lua em sua imponência entrar em palco enquanto eu, também espectadora, afundava meus pés descalços na areia macia a passos lentos e, bem... e te imaginava ali a beijar minha testa tal qual a noite beijava o mar.

É que, talvez, eu te quisesse perto o suficiente para dividir o momento que a lua subiu no horizonte se empoleirando entre as nuvens e deixando apenas partes da sua silhueta avermelhada livres para apreciação numa apresentação de tirar o fôlego.

É que, talvez, eu quissese tua mão entrelaçada na minha e as marcas dos teus pés descalços na areia escrevendo em conjunto uma história de outono sem expectativas frustradas sobre futuros quaisquer.

Talvez, mas só talvez, seria interessante te ter aqui comigo, a dividir um feriado qualquer numa praia um tanto deserta fantasiando amores a caminhar sem rumo e seguir a linha da maré sem ter certeza sobre nada.

Ou talvez, inconsequentes deixar de se importar com resfriados ou limites mentais e num lapso impulsivo se jogar no mar. Mergulhar na noite fria a procura de estrelas caídas entre a espuma do quebrar das ondas. 

É, talvez, eu te queira aqui a preencher o som da maré com teu riso frouxo, teu corpo quente e teu papo furado sobre qualquer assunto irrelevante que eu gosto tanto de escutar até o sono me vencer e teu colo virar travesseiro num desses dias que não seja preciso trabalhar logo cedo.

É que a lua conversou comigo hoje e pediu para escrever sobre as coisas que não sei dizer.

Coisas essas que talvez nem deva dizer.

...Talvez.

25 junho 2021

É SEM GRAÇA A LUA CHEIA SEM VOCÊ

Leia escutando Apaga a luz - Nicolas Candido ft. Olívia .
A neblina a cobria, desfocada ali ela também embaralhava algo aqui dentro. 

Meus olhos falhos mais uma vez não conseguiam apreciar tamanha beleza. Estava frio, um desses dias gelados que as mãos fazem morada nos bolsos e o mundo permanece encoberto pela cabeça baixa que evita o vento cortante. Eu voltava do trabalho e a notificação no celular me lembrou que ela estaria completa igualzinha à última vez... infelizmente, nessa noite a vi sem você.

Sentei num degrau qualquer entre o caminho de casa e olhei para o céu. Busquei tua companhia em alguma estrela, em algum planeta perdido que resolvesse fazer questão de se manifestar. Mas você não estava em lugar nenhum, nem no breu daquela noite desfocada, muito menos do meu lado a ver a lua. 

Eu acho que senti tua falta, mas não gostaria de afirmar isso.

Deu saudade do teu calor a aquecer minhas mãos geladas, do teu corpo descansado ao lado do meu na espera de uma lua gigante que mal sabíamos mas frustraria expectativas. Fechei os olhos e aquela mesma playlist tocava nos fones, na mesma ordem não aleatória que escutamos juntos, numa outra rua, num outro ciclo lunar.

Te imaginei ali, confesso.

É bom te lembrar. Te reconstruir sem contextos... desengonçado, bobinho, meio sem saco para a vida, meio que sobrevivendo ao caos, inventando um mundo paralelo onde possa viver de verdade. Te reconstruí ali olhando para mim com esse sorriso que... droga, me faz sorrir só de lembrar.

Eu não sei o que tu faz comigo, o que essa mistura de sensações estranhas e aleatórias querem me dizer mesmo longe da tua presença. Não gosto de não saber o que acontece aqui dentro, nem da ideia de perder o controle da minha própria mente, mas tu consegue me tirar de órbita com tanta facilidade.

Não queria te dizer, mas a lua estava realmente bonita dessa vez. As nuvens foram embora com o tempo e deixaram ela brilhar em seu ápice para mim. Ingênua continuei a me perguntar entre questionamentos difusos se por um descuido qualquer parou para observá-la, se por um acaso desse universo também lembrou de mim... se riu mais uma vez dessa minha mania maluca de conversar com lua.

É engraçado. Caótico. Contraditório. Até receoso. Mas um fato:

Eu senti tua falta nesse luar.

Não era com a grande pupila da noite que pretendia conversar. Foi a tua presença que busquei.

Como se em silêncio gritasse para o universo todas as palavras trancafiadas que perduram em meu interior sem nem saber direito que frase formar. Uma conversa silenciosa sem nexo, sem coerência alguma, um reflexo perfeito do quebra-cabeça que venho falhando montar. Algo que nem eu entendo para poder ou me dar o luxo de querer expressar.

Sabe... queria realmente ser essa explosão de sensações que sou aqui, entre palavras e contextos escritos, essa mistura eloquente de sentimentos que desabrocha em conversas noturnas entre eu e meu eu manifestado em paranoias ocultas... mas dentro faz tanto frio. Até mais frio que lá fora...

Frio a ponto do café esfriar logo depois de pronto e ter aquele gosto de desistir da vida a cada gole. Não sei mais manter a chama acessa da emoção, meu mundo se tornou racional demais para expressar. Não sei em que momento perdi a essência gostosa de sentir com todo meu coração. Acho que em alguma estrada sem nome, algum lugar que não faço ideia de como retornar...

Suspirei fundo e abracei meu corpo num momento de autoproteção permanecendo quentinha no meu próprio colo sem ter o teu corpo conforto ali a me envolver enquanto encarava a lua cheia no céu a guardar outra vez meus segredos mais ocultos e me perguntava se, por sorte, estava a pensar em "nós" também...

Parti daquele degrau sem graça desanimada com aquele céu bonito a me guiar para casa. Restou minha cama vazia, essas palavras clichês aqui cuspidas e um café quase frio até o beirar da meia-noite quando por fim adormeci. Mais uma noite sem teu calor, sem teu papo tagarela de quem me apresentaria cada parte do universo em conversas longas madrugadas à dentro, sem um filme qualquer passando imune na tela enquanto finjo não tentar gravar na memória cada detalhe teu.

Acho que, por fim, apesar de toda essa enrolação... queria só dizer que a lua estava linda em seu ápice ontem e que mesmo indo contra meus princípios de coração de gelo, queria ter dividido ela contigo...

Mesmo que esse mecanismo de defesa covarde que adotei tenha preferido se calar e não criar expectativas, escolhido só te imaginar... eu ainda assim te queria lá. 

E outra vez, acabei por fugir, escolhi te eternizar nessas minhas palavras mesquinhas por medo de não conseguir fingir de novo que aqui dentro definitivamente nada existe. Por receio de te deixar saber o que não sei se quero sentir.

... mas, se por via de insanidade minha essa baboseira eu te mostrar... ´

saiba que a lua ainda é interessante de ser observada em qualquer uma de suas fases.

(Gabrielle Roveda)

13 fevereiro 2020

NA FALTA DE VOCÊ, BAUNILHA

- Oi?

- Ãnh... oi.

- Chocolate ou baunilha?

- Baunilha. - Uma de suas sobrancelhas se ergue como se não entendesse nada.

- Cobertura extra?

- Aham. 

- Aqui está. - Sinto seus dedos gelados tocarem minha mão suada ao entregar o sorvete.

Permaneço ali, indeciso para onde ir congelando os dentes no desgosto. Reparando no seu disfarçe ao olhar de canto para mim.

- Trabalha aqui agora? - Pergunto, por fim.

- Não, só estou fazendo um extra.

- Ah! 

- Sabe, pensei que odiasse baunilha...

- É... - Respondo indiferente.

- Faz tempo mesmo, as coisas mudaram. - E ri, um riso forçado. - Boba eu achar que não. - Ah, as curvas daquele sorriso...

- É, odeio sim.

- Mas...?! 

- A gente acaba aprendendo a suprir faltas com outras opções. 

- Mas tem chocolate... é seu favorito, não é? 

- Aham. - Dou de ombros.

- Por que baunilha, então? - Sua testa enrugada com a dúvida e as mãos apoiadas no balcão me relembram toda sua essência.

- É o seu favorito!

08 fevereiro 2020

DEIXEI A PORTA ABERTA

Olhei o pisca-pisca acesso sob a cabeceira da cama me tirando da penumbra do anoitecer e logo colocando a escuridão de volta ao meu redor e lembrei de você naquela noite ali deitado. Com a meia face iluminada pelo piscar das luzinhas, uma eternidade ter que esperar sem poder ver teu olhar sereno e a curvinha sem vergonha do seu sorriso naquele milésimo de segundo ocioso. 

Era como se você estivesse ali outra vez, o braço dormente em baixo do travesseiro, o rosto amassado a me fitar enquanto suas mãos se perdiam ao contornar a curva da minha cintura e eu sentia o aroma do seu suspiro como se fosse o mais saboroso algodão-doce. 

Fechei os olhos e juro, por um minuto, poderia facilmente ter caído na farsa da minha própria imaginação

Apesar dos pesares, te lembro com carinho nessa noite, nossa última

Lembro do café que preparou naquela manhã, lotado de açúcar, mas para você eram apenas duas colheres. Você deve ter esquecido na euforia de me agradar logo cedo que meu café é tão amargo quanto a certeza da sua despedida. Mas eu bebi com gosto, te beijei com o sabor melado que infiltrou em minha boca e o bafo de quem matina mergulhando num vício etéreo. 

Enrolada nos lençóis, a porcelana queimando a palma da mão te vi puxar a calça num ato certeiro, afivelar o cinto e logo depois me puxar para perto como se não quisesse ir embora jamais. Mas você tinha ir, não tinha? 

Se despediu de mim com aquele beijo doce, naquela cama quente e me deixou, logo depois, com lençóis lotados de marcas geladas do teu corpo nu.

Você foi embora, olhou para trás numa promessa de pupilas que dizia que voltaria ao fim do dia para a minha cama amassada que já nem fiz questão de arrumar. No entanto, no fim daquele e de outros dias o que sobrou foi seu cheiro, tão insistente quando minha vontade de te rever

Naquela manhã, você se despediu com beijos de cafeínas, abotoando a camisa e deixando suas marcas de mãos sedentas a se dissipar da minha pele frágil, se despediu como se jamais fosse embora de verdade e deixou suas cicatrizes nas expectativas de te rever sobre o pisca-pisca mais uma vez. 

Deixei a porta aberta, novamente, cai no sono entre os devaneios de saudades suas esperando você voltar mais uma noite. 

E você, mais uma vez, não voltou. 

14 fevereiro 2019

CONEXÃO DE AMOR SEM FIO

Descobri o problema que rondava a rede: você.

Invasor como um vírus, você burlou o sistema e se fez presente aqui sem convite algum. Saiba que não é nada cortês da sua parte ter uma atitude dessas.

Gerou alguns erros e desconexões imediatas, meu pensamento não estava mais acostumado com a sua presença, não dá para chegar assim e querer que as coisas continuem completamente equilibradas. Foi complicado, fiquei sem conexão alguma até te encontrar perdido nas sinapses do meu cotidiano ansioso.

Mas, você não deu bola para isso, deu? Você quis mesmo é causar embaraço. Chegar chegando com esse sorriso barbado repleto de malícia estampado na droga do teu rosto desgraçado de bonito... quis fazer carnaval fora de época em mim, armar folia sem hora para acabar e não se prestou nem para avisar com antecedência... 

Pois saiba que não vou arrumar essa bagunça toda que o seu furacão de recordações me trouxe! Por essa eu sei que você não esperava, confessa, vai! A verdade mesmo é que não quero ter lembranças suas para me atormentar, tenho rinite alérgica a passado parado. Nem vou remexer nessa nostalgia toda, não quero chegar perto.

Ok, talvez não seja bem assim.

Sabe como é...

É que é impossível não sorrir ao ter o teu sorriso estampado no balãozinho do meu pensamento, é tão, mas tão bonito que museu nenhum guarda tesouro tão grandioso quanto teu riso torto.

E esse teu brilho no olhar, de homem maduro que não quer crescer, continua o mesmo de quando ainda era só um menino coberto de sonhos, aqueles que você dividiu comigo entre cafunés e beijinhos. Tem coisas que mesmo querendo deixar para lá você não abandonou.

É bonito lembrar de você, lembrar do que já fomos um dia. Por isso não queria remexer na bagunça, eu sempre vou além quando se trata da gente. Nunca enxergo a boia que delimita a parte mais funda do nosso silencioso oceano particular.

Talvez essa rebelião de lembranças que foram jogadas no meu sistema não sejam o acaso vindo bater à porta e essa desordem seja uma nova ordem para os meus dias futuros.

Talvez haja uma conexão em tudo isso. Não digo na junção dos fatos, mas em mim e em você.

Talvez nosso amor só funcione assim, como rede sem fio.

Distantes, mas conectados da mesma forma.

- Gabrielle Roveda

04 janeiro 2019

O AZUL DO MAR LEMBROU TEUS OLHOS CASTANHOS

Não foi intencional, eu juro

Pode mesmo não fazer sentido, mas toda a imensidão perdeu a cor diante da lembrança do teu olhar moreno. Talvez a verdade seja que cor nenhuma consegue superar o brilho que tu trás aí dentro

Coração é mesmo involuntário, né? Tenho culpa não de ele me levar a ti sem eu ter que mover meus benditos pés dessa areia macia, é que distancia nenhuma supera minha mania em te trazer pra perto

Desculpa, oras. Não faço por mal. 

Sabe, é doce te ver sorrir, não falo desses sorrisos cheios de dentes. Falo do sorriso que as tuas íris transmitem. Trás paz e uma vontadezinha incansável de te mimar e te cuidar pra sempre. Diga-se de passagem, é um belo sorriso aquele com dentes também, do tipo que amolece todinho o meu coração.  

Af, é uma bela de uma droga o que tu faz comigo. 

... como faz falta todos os teus risos. Dos mais escandalosos com ruídos engasgados aos mais singelos cantos da boca levantados. Principalmente aquele que acompanhado de um eu te amo quase no mudo, sussurrado, fazia o cantinho direito da tua boca subir num sorrir fechado que parecia querer dizer que todo nosso amor jamais iria embora de dentro de ti.  Mas, ele foi não é? Nosso amor escapou...

Ué, é saudade o nome disso que o azul do mar me proporcionou? 

Faz tanto tempo, não? Tanto tempo que não te vejo estampar um único sorriso. Não porque tu não sorri mais, nós é que não somos mais presença. Mesmo não tendo a sorte grande de espreitar um riso teu de canto, peço aos céus que tu esbanje muitos deles por aí, as pessoas precisam ver coisas maravilhosas como essas.  

É engraçado, mas só de lembrar eu é que estou sorrindo. 

... acho que, no fundo, não muito a fundo eu olharia pro teu olho como com facilidade encaro o olhar intenso do oceano. Não parece, mas teu olhar castanho, pra mim, é mais profundeza que os milhões de mistérios escondidos no mar.

Eu não sei o que seria do meu olhar ao encontrar o teu, nem de todo o resto de mim que habita esse corpo. O que eu faria com um coração açucarado quando a onda nervosa de te encarar levasse toda minha resistência de ti? Quem eu seria sem escudo e capacete diante do teu olhar carregado de munição? Diante da tua boca levemente curvada pra direita bem na minha frente...

Será que aquelas mesmas borboletas que me visitaram em outras primaveras surgiriam em pleno verão que tu me faz sentir? Talvez eu nunca saiba novamente, não é? 

Tudo bem, me resta namorar o mar e abraçar as ondas, enquanto o meu olhar castanho se perde na busca pela tua distante imensidão.  

- Gabrielle Roveda

23 agosto 2017

AMOR É A INCONSTÂNCIA DO SENTIR

Descobrir o amor é como se arriscar numa montanha-russa pela primeira vez, você começa calmo, apenas se deslocando, subindo, encarando pequenas ondulações e frios na barriga em curtos espaços de tempo. E continua subindo, desacelerando, acelerando um pouco mais. Até chegar ao ápice, ao ponto mais alto. E aí você desaba numa onda de adrenalina e medo, nutrindo uma sensação de bem estar e de estômago revirado ao mesmo tempo, até tudo voltar a desacelerar. Tudo, menos o coração. 

O coração continua inquieto, as pernas continuam bambas depois dessa aventura e você olha para trás e a única coisa que consegue pensar é: daria tudo para sentir isso novamente.

E você dá tudo de si, enfrenta seu medo de altura, suas fobias bobas. Sua vontade de desistir fica de lado e você coloca a cara a tapa e encara mais uma vez os altos e baixos, as borboletas no estômago, o sentimento congelante de cair em um poço sem fundo e o medo de não ter uma corda para poder voltar... mas algo te trás segurança, sem saber o que ao certo é isso que te faz ir em frente mais uma vez.

Amar é inconstância, é se jogar no desconhecido como se soubesse lidar, como se o pouco que se conhecesse e a leve experiencia que já se teve fosse o suficiente para acreditar naquele mantra de que vai dar certo a todo custo. A verdade é que não precisa dar certo, amor é dar errado num dia e certo no outro. 

Não existe um padrão que defina qual o ponto exato de perfeição na conexão de duas almas. Só se descobre o amor, amando. Entenda o que eu digo, se descobre o amor, não a definição dele. Quem sente sabe que lágrimas não cobrem o valor do sentir, tempo não cura a cicatriz das lembranças. 

Amor não gera raiva, não gera rancor e ao contrário do que dizem, amor e ódio não andam juntos. Quem cultiva esse sentimento dentro de si, não deixa espaço para o oposto tentar semear. Amor é a inconstância do sentir, a fragilidade de um coração que palpita na adrenalina que o medo trás e consegue enxergar beleza na tensão da conectividade do corpo e da alma. 

- Gabrielle Roveda

05 julho 2017

TU É TREVO DE QUATRO FOLHAS


Tu é o tipo de pessoa rara de encontrar, o mesmo tipo que a gente não esbarra em qualquer esquina por aí, mas que, por sorte, eu tive a chance de esbarrar. Tu é a procura incessante e totalmente falha num jardim enorme de milhões de trevos iguais que só se torna visível para quem repara no que não é tão óbvio, no que não fica tão à mostra. 

Talvez tu não esteja no meio das maiores possibilidades, mas exatamente no que passa despercebido. Talvez invés do jardim, tu esteja ali, no meio de um paralelepípedo qualquer, solitário e perdido, sem chamar atenção, buscando alguém que ache graça em te encontrar tão sem querer. 

E eu tive sorte em te encontrar, tive a sorte vasta de olhar para o que o mundo não percebe e percebi o teu sorriso doce esperando pelo meu olhar confuso. Percebi como o teu jeito único que te faz tão diferente era exatamente o amuleto da sorte que eu precisava ter. Tu é o encontro do diferente em mim que há em ti, como se mesmo disforme e não encaixável ainda fosse a peça que completa o meu quebra-cabeça.

Tu é céu noturno lotado de inúmeros corpos celestes brilhantes que o mundo ignora infiltrado em rotina, mas eu paro para observar. Tu é universo em cada linha de expressão, é ponto a ponto um mapa de novas constelações por ser descoberto. Tu é o detalhe do detalhe que o artista não viu, o pingo na folha branca que significa mais que um simples ponto de tinta numa imensidão oculta. Teu detalhe é, exatamente, como a quarta folha da sorte num trevo camuflado dentro de uma multidão tão igual. 

Tu é o oposto do comum que agrada o mundo, mas exatamente o incomum que agrada a mim. É como manhã fria de inverno e café bem quente, é exatamente aquilo que eu precisava. Tu é trevo de quatro folhas na rotina das minhas obrigações diárias, é esperança no fim do dia. É força para fazer mais e continuar, tu é porta aberta para fora da minha zona de conforto, é telescópio que mostra aquilo que eu não consigo enxergar.

É manhã de domingo à toa, conversa rara e boa. É jeito definido de viver sem definição, é aconchego e colo depois da exaustão. Tu é essência gostosa em manhã de primavera, é brisa do mar, toque de chuva serena e bela. Tu é jeito sem jeito de trazer sorrisos sinceros, é mania boba de expressão. Tu é jeito doce de viver, é sorte viva que cultivei no meu jardim. Tu é pedaço de sonho que faz o meu querer acordar e eu só quero o leve da vida pra te levar.
- Gabrielle Roveda

24 abril 2017

AMOR, AINDA BEM QUE VOCÊ EXISTE

Ufa, ainda bem que você existe. Já imaginou o trabalho que eu teria se tivesse que te inventar? É que assim, você é meio que a síntese de perfeição do meu mundinho, mesmo que seu padrão seja completamente imperfeito. Confuso, eu sei. Porém, nunca disse que eu não seria esse poço doido de confusão. Amor, agradeço mesmo por não ter que arcar com o trabalho duro de te inventar, já pensou? Logo eu, desastrada como sou, jamais iria conseguir criar alguém assim. Devo parabenizar aos criadores que, querendo ou não, te fizeram meu encaixe perfeito. 

E eu confesso que não tiraria nada de ti, não melhoraria um pontinho sequer, sabe por quê? Porque até dos teus defeitos eu consigo gostar, acho que sem eles não teríamos tantas crises para superar. Sem tua mania de sentir ciúmes adolescente e surtar por cinco minutos, eu não teria com quem me reconciliar depois de uma briguinha momentânea. E sabe? Gosto tanto do teu ciuminho besta de vez em quando, mostra tanto que você se importa em ser único para mim. E pode ter certeza, você é. 

31 março 2017

TÁ FALTANDO EMPATIA NO MUNDO

Hoje me questionei sobre o que é humanidade realmente, no sentido mais profundo da palavra. Procurei e só encontrei falsas promessas no dicionário porque, veja bem, no mundo real a definição é outra. Somos um conjunto de seres com características específicas para a ciência, mas numa explicação mais conotativa somos o resumo de um conjunto de empatas.

É aí que me pergunto: onde estão os seres humanos então? Digo, humanos de fato. Praticantes da empatia, do amor ao próximo, aqueles seres quase em extinção que enxergam além do próprio horizonte visto através de um vidro fosco? Sou apenas eu que os busco e raramente os encontro?

Empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro de forma figurativa e, apesar disso parecer tão fútil visto por cima, é por causa da falta dessa habilidade emocional que o mundo anda tão fora de eixo. É por causa da cegueira dessa "humanidade"que o individualismo é bandeira hasteada. O dia em que os seres humanos entenderem que o egoísmo adoece os sentidos, serão menos cegos, surdos e mudos para o próprio mundo e, finalmente, farão jus à palavra que os define no dicionário. 

Tá faltando é empatia no mundo, não é o amor que faz falta. Amar é ligação afetiva e, pense comigo, mesmo esse sentimento necessita extremamente dessa habilidade de compreensão para fluir. Tá faltando é gente que assume seu papel de ser, realmente, humano. Empatia não é só sobre enxergar como seria estar na pele de alguém, vai além de um "eu sei como você se sente". Tá faltando é gente que assume o papel do outro cognitiva, emocional e compassivamente, sem frescuras.

É sobre abraçar a alma alheia num abraço sincero, sobre sentir com o outro, não como o outro. É sobre ter maturidade o suficiente para entender que ser empata é uma das funções mais importantes da nossa inteligência. É abrir mão desse jogo insano de sofrimento individualista, onde se força o mundo a dar o que não está disposto nem a oferecer, simplesmente por egoísmo próprio.

Tá faltando empatia no mundo, tá faltando gente que quebre o limite fosco do horizonte e enxergue mais do que o campo de visão mostra. Ta faltando é muito mais gente que julga menos e compreende mais, mais gente que sente com o coração a vida do outro e não ignora a dor, mas ajuda a moldá-la. O mundo carece de seres humanos verdadeiramente inclusos nessa humanidade não biológica.


- Gabrielle Roveda

20 março 2017

MOÇO, PODE VIR QUE EU TE DEIXO BAGUNÇAR A MINHA VIDA

Nem percebi a hora que você chegou, não fiz questão de perder meu tempo avaliando o relógio, eu simplesmente te quis pertinho sem que o resto pudesse fazer alguma diferença. Te quis aqui para trocar abraços apertados em noite frias como essa mais de uma vez, te quis e quero aqui para poder olhar esse teu sorriso lindo sem me cansar jamais. Te quero aqui para dormir mais uma noite ouvindo tua risada tão gostosa de escutar e dessa vez muito mais próxima ao meu ouvido. 

Não faço ideia do momento em que você surgiu no meu coração e nem como isso tudo foi acontecer. Tá uma bagunça danada aqui dentro, anda tudo revirado e eu nem sei direito bem o que sentir. Você me bagunçou moço, me tirou do ponto de equilíbrio, desconcertou minhas ideias, me fez tirar os pés do chão e voar sem querer voltar. Moço, você não faz ideia da bagunça que deixou aqui dentro, mas quer saber, não ando nem um pouco afim de arrumar tudo sozinha.

Então, vem. Eu te deixo se aconchegar num cantinho do meu coração enquanto preparo ele todo para você. Pode vir, moço. Eu te deixo bagunçar a minha vida, te deixo revirar as minhas ideias se criarmos um mundo novo onde eu possa te ver sorrir. Não me importo com a bagunça, nem reparo nessas coisas, prefiro te ter aqui aconchegado no meu coração bagunçado ao invés de ter que disputar com a distância.

Vem logo, te quero aqui por hoje, amanhã e sempre. Mora no meu abraço, vem esquentar o ladinho gelado do colchão que espera teu corpo para repousar ao lado do meu. Vem roubar minhas cobertas, escorregar tua mão gelada pelo meu corpo e causar arrepios com risadinhas. Vem e me aquece no teus braços nas noites frias, morde devagarinho minha boca, beija minha bochecha e deixa eu brincar com o teu nariz num beijinho de esquimó. 

Moço, pode vir que eu te deixo roubar minhas horas de sono na madrugada, te deixo fazer a noite ser mais bonita só por te sentir mais próximo. Vem comigo olhar a lua, deitar na rua e contar as estrelas, mergulhar nas constelações e te beijar sem ver o dia amanhecer. Pode vir, eu não me incomodo em passar domingos preguiçosos com pipoca e bons filmes desde que me deixe ser teu player 2 eternamente. 

Tá esperando o que, moço? Por que ainda não chegou? Eu te espero com um café bem quente e a gente pode até pedir uma pizza ou fazer bagunça na cozinha. Vem logo para eu te lambuzar com chocolate, te encher de cócegas e te trazer para o meu mundo de uma vez por todas. Não aguento mais essa distância de você, pode vir logo que eu vou ficar louca se não fizer da minha a nossa bagunça.

- Gabrielle Roveda

01 fevereiro 2017

NÃO DEIXE UM ESCRITOR SE APAIXONAR POR VOCÊ

Não. Nunquinha. Jamais se apaixone por uma pessoa que escreve se não quiser ser despido com o olhar mais profundo que vai conhecer. Não deixe um escritor se apaixonar por você, pois ele vai te decifrar, talvez, até mais que você pensa. É o tipo de pessoa que vai te observar de canto, meio disfarçado, cuidar dos seus incontáveis jeitos de sorrir diferente e atribuir cada um a um sentimento especial e assim, te descobrir nas linhas de expressão que nem você percebe.

Não se apaixone por alguém que escreva se não quiser ser reparado nos mínimos detalhes, se quiser deixar passar aquela maldita cicatriz de espinha na adolescência que ficou bem no meio do seu nariz, um escritor vai reparar mesmo que não comente. E vai fazer poesia do seu jeito torto de andar, da sua reboladinha inevitável ao caminhar, das suas cutículas roídas e até do desenho abstrato da sua íris. É inevitável e nada será mais justo que alegar licença poética para fugir de uma discussão. 

Não deixe um escritor se apaixonar por você se não quiser ser eternizado em milhares de textos soltos por aí e nenhum em especial totalmente direcionado à você. Não é de propósito, mas eles sabem que aquelas palavras que te descrevem precisam se encaixar em outros corações também. Não se apaixone por um escritor, é o único conselho que posso dar.

Não se apaixone se não quiser quebrar expectativas e viver fitando olhos com o brilho mais estranho que você verá, com entusiasmo no olhar. Escritores não param de pensar, não deixam de tentar poetizar mais do que uma folha de papel, não se contentam até não conseguirem levar todo o seu romantismo exagerado para a realidade. Vão criar metáforas cafonas, cenas caóticas e momentos marcantes esperando que tudo soe como numa cena de um livro de romance e você vai ser personagem das esperanças frustradas de diálogos frouxos que quase nunca ocorrem como o planejado.

Não deixe que um escritor se apaixone por você se não quiser receber palavras como presente em todos os momentos que soarem meio especiais e até quando nem momentos para se comemorar tiverem. Não se deixe levar pelo jeito maroto, pelo sorriso encantador e por aqueles calos nos dedos onde a caneta vive apoiada. Não se apaixone pelas palavras que parecem melodia em um conversa fiada, nem pelos conselhos clichês que chegam de mansinho para te fazer sorrir. Escritores te eternizam no papel, na vida, nos traços da própria alma.

Não goste tanto assim de um escritor se não suportar tanto café em um dia só, se não se sentir bem ao meio da noite só por se deparar com o cantinho da cama vazio e o feixe de luz do abajur na sala clareando os devaneios noturnos cheios de novas ideias que o obrigam a levantar e escrever.  Não deixe um escritor se apaixonar por você se não quiser que ele revele seus maiores segredos em linhas tortas disfarçadas de poesia, pois eles não vão esconder os detalhes do seu cabelo de espantalho ao acordar e muito menos a sua mania de coçar o bumbum que ficou marcado pelo tecido da poltrona da sala... escritores não encontram restrições, tudo é poesia. Acostume-se ou nem ouse conhecer esse mundo.

Não se apaixone por um escritor, eles tem uma ótima lábia e sabem te levar para onde quiserem ir só com o gostinho de palavras bem ditas. Abra bem os olhos para não cair cegamente nas frases bem formadas, porque a partir dali já não há mais volta. Não se apaixone por alguém que escreve porque pode ser que não queiram nunca escrever sobre você, queiram escrever apenas sobre os fatos do mundo. Não espere que um escritor te mande cartinhas por obrigação, pois a escrita é sagrada ao seu ver para ter que fazer por mal gosto.

Não deixe que um escritor se apaixone por você se não quiser se manter vivo mesmo após o fim, se não quiser que ele enxergue o seu lado bom em meio a tantos podres. Não se apaixone por um escritor se não quiser viver o bom do mundo visto de um novo ângulo, se não quiser ser poesia em mãos apaixonadas, se não quiser que linhas sejam insuficientes e palavras indescritíveis sobre tantos milhões de sentimentos. Não deixe um escritor se apaixonar por você, deixe-o, entre tantas exclamações, simplesmente amar você!


- Gabrielle Roveda

26 janeiro 2017

DEIXA EU ME PERDER NO TEU SORRISO

Desculpa se sem querer me apaixonei pelo teu sorriso, eu nem tive a intenção. Essas coisas meio que acontecem, não é? Pelo menos é o que dizem por aí. A verdade é que eu nunca soube bem como lidar com as coisas do coração, dessa vez não seria diferente. Sou só uma mera aprendiz nesse negócio de enxergar pouco em quem parece ter sempre mais a oferecer e eu te vi mais fundo do que deveria, talvez eu só ache que teu olhar quis é me mostrar mais do que eu estava acostumada a enxergar. Sabe, sou coração mole, algumas pessoas me encantam mais do que o normal.

É que você me tocou sem sequer me encostar, moço. E eu te abracei com meu olhar, te trouxe para pertinho e quis cuidar das tuas angústias como se minhas conversas sem nexo e minhas piadas bobas pudessem te curar do mundo. Eu pisquei e você já fazia parte da minha insônia numa madrugada qualquer, nem tive tempo de me dar conta disso. Não tive tempo de negar ao coração a tua presença aqui dentro. Não me contive, me perdi no teu sorriso, na curva bonitinha que se forma na tua boca e acho que vou demorar para me encontrar já que a cada novo sorriso teu me perco um pouco mais. 

Moço, me explica essa sensação de inverno e verão que volta e meia aparece na tua presença, me diz por que é que eu travo, por que o chão parece de algodão e eu já não sei bem como conversar direito? Já te falei que não sou fã de borboletas? E talvez nem época seja, mas elas florescem aqui dentro e fazem uma bagunça danada sem pedir sequer licença ou pagar o aluguel adiantado ao meu estômago. Você chegou tão sem querer, moço, e já confundiu tudinho aqui dentro. 

Acho que um dia eu tomo jeito, moço. Descubro a força do hábito e paro de me encantar com brilhos no olhar e sorrisos sinceros, talvez eu pare de perceber no mundo a profundidade escondida das pessoas. Um dia eu tomo jeito e deixo de lado os sorrisos bobos que me encantam com facilidade, te deixo pegar na minha mão, entrelaçar teus dedos nos meus e passo a reconhecer o teu perfume mais de perto. Talvez eu tome jeito de uma vez por todas e pare com essa mania de poetizar todas as coisas ou quem sabe crie coragem de conseguir te olhar e ver não só o desenho abstrato da tua íris, mas o que tem lá dentro do teu coração. Talvez até me deixe conhecer teus sorrisos de canto que me encantam tanto. 

Chega de mansinho, moço, mas chega. Vem mais pra perto, não faz isso de esbarrar teu corpo no meu, te tocar de leve me causa arrepios. Não deixa tua pele só encontrar a minha num rápido segundo, pega minha mão com vontade, me coloca no colo e troca esse abraço que só meu olhar já trocou. Deixa eu te sentir aqui perto, diz para mim, com essa tua voz calmaria que também sou motivo de alguma das tuas insônias, que aquele bobo sorriso por qual me apaixonei foi só uma tática pra me trazer pra perto. Chega devagarinho, sorri mais uma vez, deixa eu me perder no teu sorriso.

- Gabrielle Roveda

11 janeiro 2017

VOCÊ É A SAUDADE DE QUEM?

Hoje eu parei para pensar nas coisas da vida, não que isso geralmente não aconteça, mas hoje eu lembrei da saudade e do quão presos a coisas do passado ela nos deixa. Me perguntei quantas saudades diferentes eu sinto e se há alguma forma de ordenar por importância e intensidade, fracassei na resposta. Não encontrei a maneira certa de entender a categoria de cada saudade, mas descobri que individualmente são extremamente importantes.

Sou um poço de saudades, de passados não esquecidos querendo ser revividos como se pudesse haver um pequeno botão de "replay", de gente que foi embora e nunca mais deu as caras por mero orgulho. Sou dessas que não gosta nada de deixar ir para sempre, a opção é de cada um, mas o sentimento é só nosso. É difícil domar a saudade, sentimos falta, queremos perto e na maioria das vezes o pedido do coração não é atendido.

29 dezembro 2016

É TEMPO DE COLOCAR A VIDA DE VOLTA A VIVER

É quase meia-noite e falta pouco tempo até o ano acabar e o relógio marcar 23:59 do último dia do calendário.  Tempo em que se repara no tempo: perdido, aproveitado, deixado de lado, reclamado, tolerado, apressado. Tempo em que se fala de esperança como foi falado há cerca de trezentos e tantos dias atrás, onde tudo eram metas no papel que, talvez, hoje ainda nem tenham sido concluídas. Falamos de tempo quando nos falta o dito cujo, falamos de tempo quando achamos que o merecemos ter quando, na verdade, ele esteve ali o "tempo" todo e passou despercebido. 

Acho irônica essa época do ano: parece que as pessoas ao invés de se desligarem para relaxar, se ligam. Apertam o botãozinho de "acordei para a vida" e descobrem que os dias todos que ficaram para trás não foram úteis para o que mais traria felicidade. Nos enchemos de esperança ao findar de um ano como se um milagre fosse resolver nossos problemas e esquecemos que para conseguir tudo aquilo que almejamos de barriga cheia é preciso muito esforço e uma dose grande de esperança contínua. Não basta almejar na empolgação do momento e deixar essa vontade para depois porque a desculpa, talvez, seja não ter tanto "tempo".

06 dezembro 2016

HOJE A NOSSA MÚSICA TOCOU

Era quase meia-noite, a luz do abajur já tinha começado a fazer minha cabeça doer, meus olhos pesavam querendo descansar, mas eu insisti em abrir a saudade engaiolada em um site qualquer. Digitei aquelas letrinhas e com um clique estava eu na página onde eternizei meus momentos com você, a playlist automática começou a tocar e o assovio doce daquele cantor descontrolado me fez viajar para onde estava negando ir: até você. 

Quis doer a falta que eu sinto aqui dentro, mas eu sorri. Sorri para todas milhões de lembranças que passaram num filme rápido em minha cabeça. Nossos pés na areia no fim de ano, a brisa morna do vento salgado da praia se chocando com nossos rostos, a lua sendo cúmplice do nosso romance. As mil vontades adolescentes de dominar o mundo antes dos 20 anos e todo o excesso sentimental que não sabíamos domar veio a tona. 

28 novembro 2016

ELA NÃO É TUDO ISSO, MAS É ELA MESMA

Não é como se fosse um projeto de boneca perfeita feita exatamente para agradar, pelo contrário cara, ela não é perfeita e nem quer ser. Ela não é tudo isso que mostram nas revistas, o corpo não é escultural e o mais bonito é que photoshop nenhum esconde as cicatrizes nos joelhos de menina pirralha. Ela não é nem de longe o modelo de exemplo da sociedade, não tem os olhos mais lindos do mundo, mas tem o olhar mais sincero de todos e isso é o que realmente vale. 

Não nasceu pré-determinada, mal sabe o que fazer do próprio futuro mesmo que siga em frente com os objetivos. É desastrada e não tem vergonha de admitir as próprias falhas. Ela é sincera, sabe o que não quer e não lida bem entre escolher aquilo que quer. É uma pessoa qualquer cheia de sonhos e desapontamentos que vive batendo o dedinho na quina dos móveis quando esquece o horário de acordar. Ela é atrasada, desengonçada, anda esquisito e tem manias estranhas, mas é ela mesma.

Ela não é tudo isso que vivem procurando por aí, não tem o melhor cabelo do mundo e o sorriso nem é tão bonitinho assim, porém é extremamente espontâneo. Ela é leve o suficiente para parecer linda sem ser tudo isso, tem uma voz que contagia e uma risada que faz o mundo querer rir junto. Não, ela não anda com roupas da moda, prefere calça de moletom ou cara limpa no dia-a-dia e tudo isso, ao invés de deixá-la ridícula, a deixa cada vez mais linda.

Ela não se importa com as peculiaridades da ditadura da beleza, ela tem personalidade própria para não se deixar levar pela poluição informativa. Não é do tipo que chama atenção, quando passa quase ninguém olha e talvez, quando olhem vão rir do modo descontraído de se portar. Mal sabem esses que o mais importante não é beirar o ridículo para o mundo e sim, sentir-se bem consigo mesma. E ela preza a sua autoestima, ela se conhece tão bem que não se abala com as fofocas corridas. 

Ela é tão ela mesma que gera inveja ao redor, uma inveja que ela transforma em amor no filtro da sabedoria e envia de volta. Ela não segue padrões expostos, faz um pouco de tudo por simples prazer e nesse tudo, nada é certo. Ela tenta e não desiste de ser diferente na vida, não quer andar na linha tênue robotizada da humanidade, ela é diferente. 

É extravagante, despreocupada, não sente vergonha de expor sua criança interior na vida adulta, é decidida, tem um foco extremo e uma preguiça incontrolável. Ela não é um exemplo a ser seguido, não merece aplausos por seus feitos e não é dona de uma vida invejável. Ela é simplesmente ela mesma, sem mistérios. Por fora um poço de liberdade, uma vida aberta sem medo de expor seus sentimentos, por dentro um labirinto infinito de descobertas cada vez mais incríveis.

Não se deixa abalar pelos desprezos ocultos, não se importa com os olhares tortos. Ela retribuí o mundo sorrindo, é grata por cada novo dia. Por cada novo brilho no olhar e ensinamento diário. Ela é dona de si, preza o autoconhecimento e não tem vergonha de dizer que prefere um livro à uma festa até a madrugada. Bebe suco de laranja em meio a gente bêbada de dores esquecidas e sabe ser feliz sem precisar de outras essências além da dela. Cara, ela não é tudo isso que almejam por aí, mas o que faz dela tão interessante é que é apenas, ela mesma.

- Gabrielle Roveda

17 fevereiro 2016

VOU LEILOAR VOCÊ DE MIM

Já decidi, ontem mesmo fiz o inventário. O que sobrou vai para o leilão, estou cansada de te carregar nas costas feito pedreiro e saco de cimento. Já tapei os furos com a massa, exilei os ventos do passado. Cansei. Cansei de levar o mundo e o teu amor despedaçado numa coluna fraquejada. Estou doando o teu pedaço, me livrando de vez desse teu eu que se alojou em mim e não desgruda há tempos. 

Rabisquei a lista de você e mandei convite para todos no facebook para avisar do evento. Já decidi e ponto final, até hora e data marcada já tem. O pessoal esta achando besteira por aí "que louca ela, vai leiloar o passado perdido". Pois digo mais meu povo, tem até certas coisas aí que vão de brinde, aproveita e aparece, não é toda hora que se vende um passado transtornado.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...