Pode entrar, só não repare a bagunça.
Entenda, é que minha vida é um pouco tumultuada... a gente nunca tem tempo para organizar tudo né? A faxina é só na sexta e as roupas amassadas em cima do sofá não são relaxamento, eu juro.
É que as coisas andam corridas.
Mal dá tempo de regar as flores para não deixar morrerem ao sol e lavar a louça para não acumular. É, eu sei, por mais contraditório que pareça consigo encontrar a chave ou a carteira no meio daquela pilha de papéis e livros lidos na escrivaninha.
Acho que até sou organizada no meio da minha bagunça.
Desculpe os pêlos no tapete, meus gatos não entendem muito bem de bons modos, não os culpo, sou uma péssima autoridade nessa casa. O quadro na parede que era para ser uma decoração está meio torto, mas as coisas aqui dentro também não estão em linha reta.
Desculpe se tropeçar em algum pincel perdido, cuidado também para não manchar a roupa com alguma pintura meio molhada, a tinta demora para secar às vezes.
Por favor, não se incomode em entrar, só não repare na bagunça que vai encontrar.
A gente nunca sabe por onde começar primeiro.
Acabei deixando muita coisa acumular, vou ter um trabalho danado para organizar tudo. Eu acostumo, já acostumei na verdade.
Se quiser um café eu lavo minha xícara preferida e faço um para você, gosto dela porque foi por ela que larguei a mamadeira. História bonita, não? Veja que honra beber da xícara que me fez uma escritora viciada em cafeína.
Pois é, não repare muito no infinito de universos rabiscados que pode se topar por todo canto. São só retalhos de histórias não terminadas ou pedaços de mim jogados no papel pela ponta das entrelinhas.
Não, não se assuste! Eu ainda sou um pouco normal, eu acho. Mesmo que prefira o não convecional, é claro!
Quer sentar? Está com frio?
Perdão pela falta de jeito, só estou meio encabulada com toda essa bagunça.
Não pensei que tão cedo meu contorno teria de ser apresentado a alguém, mas você insistiu num copo de água e bom, em afinar meu violão.
Que tonta sou! Vou pegar a água e o violão, está meio velhinho, foi do meu avô então cuida bem dele pois é relíquia de família.
Não sei trocar mais que alguns acordes, mas eu aprendo fácil. Não vejo a hora de preencher esse apartamento com algum som além do silêncio. A inquietude do vazio me dá calafrios.
Dedilha logo esse instrumento, quero fugir do meu caos.
Hum, sabia que o som da sua risada combina mais com a música que essa melodia envergonhada? Veja só, tem um pouco de pó no braço do violão, que vergonha!
Queria dizer só mais uma coisa, posso?
Ei, pare de me olhar com essa cara, eu não sou tagarela assim sempre...
Pare de me olhar assim, não sei reagir a essa cara. Essa mesmo de quem gosta do que é disforme, de quem quer se acostumar com a bagunça.
Logo você, com um sorriso que desestrutura mundos deixando o olhar brilhar para um apartamento retalhado...
Espere, não, não pode ser.
Sim, eu sei que o exterior ao nosso redor mostra quem somos segundo teses psicológicas, você acha mesmo que sou uma bagunça? Não acredito!
Não, não me diga que gost... Ué, por quê me beijou?
Sempre me surpreendo quando chego por aqui, seus textos sempre têm algo que os diferencia dos outros ♥ "Quero que entenda que por mais estranho que pareça consigo encontrar a chave ou a carteira no meio daquela pilha de papéis e livros lidos na escrivaninha. Sou organizada no meio da minha bagunça." Me descreveu por completo.
ResponderExcluirQue lindo ler isso Kelly! Muito obrigada ♥
ExcluirComo não gostar do que escreve moça?
ResponderExcluirQue texto mais gostoso, tão aconchegante.
Lindo demais.
Beijos
♥ Te Conto Poesia
Que bom que gostou flor! ♥
Excluir