Querido ex-amor,
Achei um pedaço teu entre as páginas de um dos meus livros velhos empoeirados na estante, um pedaço da nossa história naquela pétala esfarelável marcando o passado enviesado das folhas preenchidas de palavras vazias. Era meu livro favorito aquele, talvez por isso tenha guardado aquela lembrança tua entre tais ranhuras esquecidas, tão favorito quanto era você.
É engraçado como as coisas mudam, tal livro já não é minha primeira escolha. Li muitos outros dignos de estarem no topo das minhas classificações, mas aquele ainda soa especial de alguma forma, uma forma um tanto digna de recordações. Talvez por me recordar você.
A gente era imaturo, não era? Via a vida de dentro de uma bolha de ilusão e fantasia e qualquer coisinha o mundo poderia facilmente acabar. Era tudo tão extremo... os problemas, as soluções, o amor...
Fomos intensos, mesmo tão jovens, colocamos um novo significado no amar o qual desconhecíamos até então. Um significado tão valioso a ponto de não querermos receber nada abaixo disso depois. Conheci muitas pessoas, amei algumas, mas nada se compara a descoberta do potencial do coração.
Com aquela pétala firmei compromisso comigo e no meio das páginas envelhecidas está o contrato, exatamente na marca do tempo do contorno dessa tua flor que guardei. O nosso nós se tornou meu princípio substituível, eu firmei acordo com o meu coração, prometendo que não aceitaria amores meia-boca se você decidisse partir.
E você decidiu, armou seu barquinho de papel com as páginas daquele livro e navegou sozinho pelas ruas alagadas trilhando novos caminhos. Eu permaneci mergulhada em mim, te coloquei a pegar pó nas prateleiras junto a outras histórias vividas, até te rever nessa tarde de domingo vazia.
Fechei o livro com um espirro de saudade que expulsou você de mim mais uma vez, agradecida por ter sido um tijolinho da construção do meu ser.
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