Olhei o pisca-pisca acesso sob a cabeceira da cama me tirando da penumbra do anoitecer e logo colocando a escuridão de volta ao meu redor e lembrei de você naquela noite ali deitado. Com a meia face iluminada pelo piscar das luzinhas, uma eternidade ter que esperar sem poder ver teu olhar sereno e a curvinha sem vergonha do seu sorriso naquele milésimo de segundo ocioso.
Era como se você estivesse ali outra vez, o braço dormente em baixo do travesseiro, o rosto amassado a me fitar enquanto suas mãos se perdiam ao contornar a curva da minha cintura e eu sentia o aroma do seu suspiro como se fosse o mais saboroso algodão-doce.
Fechei os olhos e juro, por um minuto, poderia facilmente ter caído na farsa da minha própria imaginação.
Apesar dos pesares, te lembro com carinho nessa noite, nossa última.
Lembro do café que preparou naquela manhã, lotado de açúcar, mas para você eram apenas duas colheres. Você deve ter esquecido na euforia de me agradar logo cedo que meu café é tão amargo quanto a certeza da sua despedida. Mas eu bebi com gosto, te beijei com o sabor melado que infiltrou em minha boca e o bafo de quem matina mergulhando num vício etéreo.
Enrolada nos lençóis, a porcelana queimando a palma da mão te vi puxar a calça num ato certeiro, afivelar o cinto e logo depois me puxar para perto como se não quisesse ir embora jamais. Mas você tinha ir, não tinha?
Se despediu de mim com aquele beijo doce, naquela cama quente e me deixou, logo depois, com lençóis lotados de marcas geladas do teu corpo nu.
Você foi embora, olhou para trás numa promessa de pupilas que dizia que voltaria ao fim do dia para a minha cama amassada que já nem fiz questão de arrumar. No entanto, no fim daquele e de outros dias o que sobrou foi seu cheiro, tão insistente quando minha vontade de te rever.
Naquela manhã, você se despediu com beijos de cafeínas, abotoando a camisa e deixando suas marcas de mãos sedentas a se dissipar da minha pele frágil, se despediu como se jamais fosse embora de verdade e deixou suas cicatrizes nas expectativas de te rever sobre o pisca-pisca mais uma vez.
Deixei a porta aberta, novamente, cai no sono entre os devaneios de saudades suas esperando você voltar mais uma noite.
E você, mais uma vez, não voltou.
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