Tenho andado pela metade.
Tem manhãs que o corpo levanta, mas a alma não acorda. Noutras a alma desperta e o resto permanece dopado de uma letargia repugnante.
As cores se escalam em tons de cinza, nada tem muita graça mais. Submerjo em madrugadas me embriagando de palavras, me iludindo em métricas cafonas como se por um acaso toda essa besteira pudesse me salvar da minha existência.
Perdi a cor.
A alma.
Ando vagando por aí como um zumbi, um corpo sem vida controlado por milhões de paranoias fúngicas que me inibem de ultrapassar o fino limite entre viver e existir.
Comi meu cérebro. Engoli numa garfada só, consumi todos os pensamentos para não ter que encarar mais nenhum. Joguei tudo para o pano branco do eu incógnito.
Não sei quem sou.
Me perdi por aí.
Deixei escapar algo no verão, acho que na areia macia que escorria entre os dedos. No castelo mixuruca que construí algo meu se foi também.
A água me lavou, será?
Me levou...
Me levou...
Fez redemoinho, arrastou pela corrente gelada lá pro fundo do oceano.
Me fez morada em conchas.
E eu me fiz pedaço partido de uma solidão rígida fantasiada de grão de areia. Quis compor um espaço que talvez não fosse meu.
Acho que não sou daqui, talvez seja mais como poeira estelar.
Grão do útero do universo, resquício de uma biologia milenar, de uma incalculável e infinita história para bebê dormir sem moral nenhuma.
Me desfiz em fragmentos pequenos para caber sem chamar atenção. Mas chamei, pedaços de nada também são estrelas cadentes no céu.
Como um astronauta nostálgico ando com saudade de ser gravidade zero, apenas ser sem estar.
Estou longe de casa, não sei mais pertencer.
Eu só quero ir embora daqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seja mais do que bem-vindo!
Não esqueça de voltar.