Passei muito tempo me encolhendo. Em sapatos apertados, em lugares do qual não pertencia, em corações miúdos, em opiniões pequenas. Mas chega uma hora que o diminuto incomoda, os calos doem, o sangue estanca no elástico, fica vermelho, depois roxo, ganha a cor do desespero, amortece os sentidos e aí, se não impedir é preciso amputar. Um longo caminho da prisão à invalidez.
Não gosto de coisas apertadas, prefiro meus pés descalços à tocar as texturas do mundo, meu moletom largo, meus cabelos ao vento, a janela do carro aberta, o poema desprendido de métricas. Nunca gostei de crenças limitantes, nem de padrões infiltrados com malícia e absorvidos na inocência. Não é sobre sapatos, roupas ou gaiolas de concreto que encarceram corpos nas rotinas da cidade grande, mas sobre um sentido de liberdade introspectivo.
Não é sobre o mundo de fora, é sobre o mundo de dentro.
Nada que me prende me tem por tempo demais, nada que me limite me faz pertencer. Se ao invés de limitar você pudesse voar junto? Nada é posse, nem a gente. O mundo não é nosso, não somos do mundo, consegue compreender? Somos parte, passagem, instantes de um todo complexo. Somos como grãos de areia na composição da costa, dias do refresco do mar, outros do sol escaldante, partes de um todo, mas ainda assim únicos e nossos.
Sabe, a liberdade é um acúmulo de pequenos fragmentos de coragem. Coragem para aceitar quem se é, o que se quer. Nos colocamos diante de situações que não condizem com a gente por ambição em encarar uma vida que não é nossa. Liberdade é sobre você na sua própria companhia, sobre ouvir o que seu eu longe de arquétipos, distante da sombra social, tem a dizer sobre você.
Não me fale que é livre porque viajou o mundo se não sabe como viajar para dentro de si. Não me diga que conhece as sete maravilhas do planeta Terra se não consegue apreciar a maravilha da sua própria companhia.
Por favor, não me diga que é livre quando abriga seu eu maior em anfitriões minúsculos.
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