18 janeiro 2021

À DERIVA

Leia escutando Petricor - Konai

Sabe, eu queria mesmo conseguir lidar com a confusão que teu olhar me causa e ser capaz de organizar a bagunça que permanece aqui dentro depois que tu vai embora.

É engraçado e irritante a forma como não consigo controlar a vontade de expor toda essa saudade que eu tenho da tua presença em mim, do simples encaixe da tua mão na minha, do teu calor conforto...

Entenda, acreditei piamente na teoria que criei que depois de tanto não querer, nem conseguir me entregar, ninguém mais me faria ficar sem chão.

... mas aí tu voltou.

Com esse teu papo furado de quem jogou minhas cartas fora, mas nunca esqueceu de fato daquele nosso nós...

É meu bem, tu mal sabe, mas eu fugi pra não sentir.

Fugi da gente. Ou do que era para ter sido nós. Uma fuga ridícula de um sentimento que eu queria reprimir, de um que tive medo  de atar, de deixar surgir.

Eu sei, fui covarde, admito.

Agora tu vem com esse sorriso leve dizendo tudo o que tu sabe que eu gostaria de escutar, trás todas memórias à tona e me tira do ponto de equilibrio outra vez...

E eu, mesmo tão refém das palavras me calo diante da tua presença incógnita em mim.

Reprimo, de novo, tudo aquilo que há anos venho tentando ignorar. Acordo e adormeço fingindo que nada sinto, nem sequer saudade sendo que ontem mesmo te vi. 

Não demonstro, ignoro. Assim talvez eu passe a acreditar mais uma vez na minha própria farsa de que nada aqui existe.

Fingindo que não perderia todo meu tempo traçando tuas linhas de expressão como um pintor num quadro indecifrável demais para ser entendido e as jogaria aqui, num texto meia boca que provável que nunca seja lido. Fingindo não te querer tanto quanto realmente te quero.

É ridículo o quanto fico boba e me perco nas minhas próprias palavras sem saber qual a melhor para expressar a imensidão de coisas que guardei por tempo demais e talvez nunca consiga te dizer.

Quem sabe eu deva continuar calada, seria um erro expressar. Voltar a fingir que nada importa, que estou muito bem obrigada e que pensar em ti não amolece toda essa casca dura de quem não sente nada e nem quer sentir que eu mesma criei.

Me pergunto, nas noites teimosas de insônia enquanto te reconstruo em pensamentos, será que sou só eu que invento essa baboseira sentimental como uma idiota ou tu, por sorte do universo, de alguma forma corresponde?

Tenho tanto pra falar sem saber ao certo o que dizer, mas tudo engasga numa bola de angústia que parece não querer ser dita, nem sequer escutada... e eu te fito com o olhar distante como se um muro gigantesco me impedisse de te deixar saber como me sinto.

Eu perco o controle do sentimento que se pronuncia em borboletas eufóricas no meu estômago, me embriago de incertezas em noites mal dormidas até por fim me convencer que se eu respirar fundo e me entreter com bobagens tu pode, por acaso, desaparecer.

Mas, meu eixo firme se despedaça só de ler teu nome, como se uma grande explosão destruísse todas as minhas bases sólidas construídas por tempo demais e eu ficasse à mercê do que vier de ti.

Não sei se fujo outra vez ou se permaneço e deixo o tempo dizer.

Me sinto à deriva, um barco solto num mar intenso e duvidoso que hora ou outra pode mudar de rumo e me fazer naufragar.

Uma constante e infinita ansiedade de não saber se devo lutar contra a maré ou me deixar afundar...

Quem sabe dessa vez, refém, eu não tenha escolha... 

Ou talvez, só não queira escolher.

(Gabrielle Roveda)

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