17 junho 2021

SERÁ QUE É CRIME AFOGAR BORBOLETAS?

Leia escutando Odeio Me Sentir Sozinho - Konai

Conversei com a lua ontem. Contei como meus dias andam sendo meio estranhos por aqui, mas que nem por isso tiro o riso frouxo do meu rosto.

Falei sobre você, contei que você... voltou...

E que quando tá perto meu corpo borbulha por dentro. Que preciso concentrar toda minha atenção em permanecer estável em pleno equilibrio por fora e continuar a parecer um ser humano normal na tua presença. Concentrar todos meus esforços em ser aquele eu que montei para aguentar o dia a dia intacta. O mesmo eu que desmonto em poesias cafonas quando converso com a lua sobre as coisas que talvez não saiba direito como sentir. 

A droga é que contigo eu sou esse eu sem máscaras. E caramba, como é bom poder ser assim sem julgamentos.

Sabe, a verdade é que tua presença para mim é conforto. Não é como se eu me preocupasse com teu corpo invadindo meu espaço ou em ocupar só um cantinho da minha cama e trocar o colchão fofinho pelo teu ombro amortecido. Não me preocupo, eu até gosto mais do que devia. 

As coisas são complicadas sabe... é difícil dividir momentos assim. Não sei mais compartilhar essas coisas, ninguém mais me interessa tanto a ponto de me permitir abrir brechas da minha vida mesquinha dessa forma. Acho que no fundo tenho medo de me envolver de novo. Meio que gosto da minha "caverna", desse meu mundo paralelo que ninguém entende de fato. Me acostumei com a minha presença, a ter de aquecer o lençol sozinha. 

Mas aí tu vem...

Chega de pouco em pouco como se soubesse que as coisas aqui dentro não funcionam no impulso. Como se entendesse que só de rachadura em rachadura é que pode conseguir abrir um espacinho no meu coração. Chega e bagunça tudo sem nem parecer se importar com o estrago. 

Deixa teu cheiro no travesseiro, a minha xícara favorita marcada com a tua boca, o fantasma do teu beijo em mim e insiste em ficar aqui de dengo como se não existisse um amanhã entre uma e outra cantada idiota... Chega e entra no meu mundo sem pedir licença como se compreendesse a loucura que é meu caos interno e só com um olhar conseguisse concertar.

E o mais engraçado é que eu te deixo entrar desse jeito, sem sequer bater e ainda te dou passe livre para chegar, esquentar o café e meu pé gelado a hora que bem entender. 

Não te contei, talvez nem devesse... mas agora as noites são vazias sem teus diálogos sem nexo madrugada a dentro. Sem tuas histórias bizzarras, tua risada esquisita, tua pele na minha ou tua barriga para eu fazer cócegas e me perder na viagem gostosa de estar na tua presença. 

O mais estranho é que esse vazio não é uma falta, um buraco ou algo que precisa ser preenchido... Não é uma necessidade... 

É só saudade.

Uma vontade imensa de dividir meu eu contigo mais vezes e criar memórias suficientes para não te apagar de mim nunca mais.

É diferente, é leve o que a gente tem. E eu gosto assim. 

De alguma forma a gente se acrescenta. 

Não sei dizer ao certo se borboletas ressucitam depois de mortas há tanto tempo ou se em pleno inverno resolveram desabrochar novamente aqui dentro, mas algo anda causando certos redemoinhos no meu estômago e sussurrando no meu ouvido teu nome em horas aleatórias do dia, tais como essa...

Sei lá, talvez o universo ande me sabotando, afinal.

Acho que conversar com a lua e te imaginar me ouvindo só me faz criar histórias desconexas na cabeça com o objetivo de voltar a escrever ao fantasiar diálogos com você que jamais serão ouvidos.

Escrevo textos soltos em madrugadas frias, monólogos avulsos sem conexão nenhuma entre meus colapsos mentais e insônias recorrentes porque, no fundo, consigo lidar melhor com as coisas quando faço dos sentimentos palavras...

Se os deixo materializados e esquecidos em um texto qualquer posso evitar futuros estragos no coração, certo? Enquanto afogo sentimentos em goles secos acho um jeito de matar impulsos no meu vinho barato.

... Poxa, será que é crime afogar as borboletas?

(Gabrielle Roveda)

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