Leia escutando: River Flows in You - Yiruma |
Tem um nó na garganta, um emaranhado de palavras emboladas.
Tem algo que dentro do não dito cria vínculos.
Mais uma noite se foi, uma das quais te vi cair no sono empoleirado nos meus braços enquanto tua respiração pesava a cada minuto e o som da TV virava só mais um ruído sem graça passando despercebido.
Cada fio de cabelo teu espalhado descansando no meu corpo, um laço invisível teu em mim. Uma conexão calada. Uma digital tua na minha história.
Somos premeditados.
Um "amor" temporário em que foi traçado um fim ainda no começo.
Zero expectativas, zero sentimentos.
Apenas a frieza de um coração gelado, o calor de um corpo fervente.
Mas, saber da partida não diminui a tensão em ir embora.
Eu te vejo detalhes enquanto tu espera que eu não divague entre as piadas que tu me conta, eu te percebo e deixo de perceber pra não ter que olhar fundo nos teus olhos. Não querendo te deixar me enxergar de volta.
É que não consigo permitir te deixar mergulhar em mim.
Eu recuo. Me desfaço em limites pré concebidos que nem eu conheço. Me anulo. Deixo ser apenas aquilo que permito ser. Sabendo que sou mais.
E dói, de certa forma, dói não me ser pra ti. Mesmo sabendo que, talvez, nem tu se seja pra mim.
Não brinco com metades.
Nunca quis ser parte de algo, eu sou inteira. Gosto do todo. Da melhor e da pior forma, sem máscaras e fantasias. Sem mentiras, omissões ou fatos pra agradar. Não tenho medo do obscuro, do oculto. Aprecio a verdade.
Mas ando sendo a pior de todas as mentiras pra mim.
Assinei um contrato anti-paixão quando me aproximei sabendo que tu era o tipo de pessoa que me apaixonaria sem muito questionar. Nunca pensei que pudesse levar tão a sério a apatia que prometi sentir.
E agora é como se quisesse ir contra as próprias crenças limitantes que me impus.
É que é bonito demais me ver no teu olhar escuro e como nosso beijo encaixa no ápice de nós dois. É bom enlaçar meu corpo no teu e descansar a cabeça do mundo enquanto te beijo vez ou outra um beijo longo em qualquer espacinho vago que parece pedir para receber carinho.
É bom me imaginar livre do receio de tentar não me apaixonar e deixar de me preocupar em saber o limite da linha tênue entre o que fazer e não fazer.
Anda frio e calculista te gostar assim.
E embora preze pela posse de um pódio gelado, sei que o gelo também queima.
A verdade é que o nó na garganta é sobre isso. Sobre querer se apaixonar e não poder. Não se permitir sem saber o porquê.
E poxa, é tão fácil te gostar.
Tão fácil me infiltrar na tua rotina sem me importar com tua cara feia, tuas manias estranhas, tua bagunça, tua desordem ou tua chatice lógica demais que destrói minhas ilusões fantasiosas como quem dá um peteleco num castelo de cartas.
Ainda assim é fácil misturar teu caos no meu.
É fácil largar minha armadura e me permitir ser um bebê que só quer colo enquanto tu me esquenta os pés e eu sorrio observando teu sorriso sem precisar dizer uma palavra. É fácil te ver sonhar e permitir os olhos umidecerem de orgulho por te ver querer viver enquanto eu tento criar gana pra virar o dia.
É simples como tu se encaixa no meu querer diante daquilo que tu percebe que me revelo pra ti, é bonito como tu se importa de uma maneira omissa que acha que eu não percebo e deixo passar.
A verdade, é que eu só queria um espaço nesse meu coração confuso que pudesse se apaixonar pelo teu eu sem inibições ou barreiras.
Eu só queria que minha mente ansiosa não passasse cada minuto pensando no quanto vale a pena se entregar pra um adeus que hora outra virá.
Não é como se em tudo não houvesse um adeus, pois há. Mas meu coração não entende a lógica matemática de se entregar pra um alguém que quer partir sem nem chegar. Não faz sentido ser inteira pra quem se doa em metades.
Será que devo me permitir, finalmente, por ti me apaixonar?!
Será que ainda tem espaço pra te ter em mim?!
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