11 março 2024

ME REFAÇO EU-LÍRICO

Tem coisas que não sei como dizer, então escrevo.

Escrevo porque ao colocar uma letra após a outra, numa sequência nem sequer programada, vou entendendo o que eu mesma pretendo me dizer.

É como se o papel fosse um psicólogo mudo que me enche de questionamentos em uma folha em branco e eu, com minha ansiedade catastrófica, precisasse preencher com pensamentos.

Ali me desnudo.

No papel eu fico nua.

Um processo íntimo de uma guerra civil interna em que meu ego trava batalhas morais com meu insconciente mais oculto e inacessível.

Enquanto os olhos fixos no branco sufocante despem palavras que remontam metáforas, as quais até mesmo eu não consigo entender a complexidade.

É sobre dentro. E dentro é um labirinto que arrepia explorar. 

Pra falar de dentro é preciso artimanhas e rodeios que nem mesmo a mão por trás da arte consegue decifrar.

Danço a caneta sobre as linhas do papel como uma bailarina num solo improvisado enquanto fecho os olhos, respiro fundo e deixo a euforia mover meu corpo no seu ritmo.

A mente ganha um véu esbranquiçado que nada diz.

Um manto silencioso gostoso de escutar.

Não há vozes, não há gritos, não há um mundo cuspindo certo ou errado.

.

E esse "haver" é a pura sensação de estar vivo.

No papel eu re-vivo.

Reencontro meu eu perdido em dogmas, crenças e culturas infiltradas no ar que respiro.

No papel eu me espelho.

Vejo a perspectiva de todos os meus lados ocultos.

Como se pudesse me descrever em perguntas enquanto olho para dentro e posso me ler em resposta...

É nessas rasuras que não rimam, não vendem e não descem redondo em leitores alheios onde me renovo.

Onde me refaço eu-lírico para sobreviver poeta num mundo escasso de poesia.


(Gabrielle Roveda)

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