25 junho 2021

É SEM GRAÇA A LUA CHEIA SEM VOCÊ

Leia escutando Apaga a luz - Nicolas Candido ft. Olívia .
A neblina a cobria, desfocada ali ela também embaralhava algo aqui dentro. 

Meus olhos falhos mais uma vez não conseguiam apreciar tamanha beleza. Estava frio, um desses dias gelados que as mãos fazem morada nos bolsos e o mundo permanece encoberto pela cabeça baixa que evita o vento cortante. Eu voltava do trabalho e a notificação no celular me lembrou que ela estaria completa igualzinha à última vez... infelizmente, nessa noite a vi sem você.

Sentei num degrau qualquer entre o caminho de casa e olhei para o céu. Busquei tua companhia em alguma estrela, em algum planeta perdido que resolvesse fazer questão de se manifestar. Mas você não estava em lugar nenhum, nem no breu daquela noite desfocada, muito menos do meu lado a ver a lua. 

Eu acho que senti tua falta, mas não gostaria de afirmar isso.

Deu saudade do teu calor a aquecer minhas mãos geladas, do teu corpo descansado ao lado do meu na espera de uma lua gigante que mal sabíamos mas frustraria expectativas. Fechei os olhos e aquela mesma playlist tocava nos fones, na mesma ordem não aleatória que escutamos juntos, numa outra rua, num outro ciclo lunar.

Te imaginei ali, confesso.

É bom te lembrar. Te reconstruir sem contextos... desengonçado, bobinho, meio sem saco para a vida, meio que sobrevivendo ao caos, inventando um mundo paralelo onde possa viver de verdade. Te reconstruí ali olhando para mim com esse sorriso que... droga, me faz sorrir só de lembrar.

Eu não sei o que tu faz comigo, o que essa mistura de sensações estranhas e aleatórias querem me dizer mesmo longe da tua presença. Não gosto de não saber o que acontece aqui dentro, nem da ideia de perder o controle da minha própria mente, mas tu consegue me tirar de órbita com tanta facilidade.

Não queria te dizer, mas a lua estava realmente bonita dessa vez. As nuvens foram embora com o tempo e deixaram ela brilhar em seu ápice para mim. Ingênua continuei a me perguntar entre questionamentos difusos se por um descuido qualquer parou para observá-la, se por um acaso desse universo também lembrou de mim... se riu mais uma vez dessa minha mania maluca de conversar com lua.

É engraçado. Caótico. Contraditório. Até receoso. Mas um fato:

Eu senti tua falta nesse luar.

Não era com a grande pupila da noite que pretendia conversar. Foi a tua presença que busquei.

Como se em silêncio gritasse para o universo todas as palavras trancafiadas que perduram em meu interior sem nem saber direito que frase formar. Uma conversa silenciosa sem nexo, sem coerência alguma, um reflexo perfeito do quebra-cabeça que venho falhando montar. Algo que nem eu entendo para poder ou me dar o luxo de querer expressar.

Sabe... queria realmente ser essa explosão de sensações que sou aqui, entre palavras e contextos escritos, essa mistura eloquente de sentimentos que desabrocha em conversas noturnas entre eu e meu eu manifestado em paranoias ocultas... mas dentro faz tanto frio. Até mais frio que lá fora...

Frio a ponto do café esfriar logo depois de pronto e ter aquele gosto de desistir da vida a cada gole. Não sei mais manter a chama acessa da emoção, meu mundo se tornou racional demais para expressar. Não sei em que momento perdi a essência gostosa de sentir com todo meu coração. Acho que em alguma estrada sem nome, algum lugar que não faço ideia de como retornar...

Suspirei fundo e abracei meu corpo num momento de autoproteção permanecendo quentinha no meu próprio colo sem ter o teu corpo conforto ali a me envolver enquanto encarava a lua cheia no céu a guardar outra vez meus segredos mais ocultos e me perguntava se, por sorte, estava a pensar em "nós" também...

Parti daquele degrau sem graça desanimada com aquele céu bonito a me guiar para casa. Restou minha cama vazia, essas palavras clichês aqui cuspidas e um café quase frio até o beirar da meia-noite quando por fim adormeci. Mais uma noite sem teu calor, sem teu papo tagarela de quem me apresentaria cada parte do universo em conversas longas madrugadas à dentro, sem um filme qualquer passando imune na tela enquanto finjo não tentar gravar na memória cada detalhe teu.

Acho que, por fim, apesar de toda essa enrolação... queria só dizer que a lua estava linda em seu ápice ontem e que mesmo indo contra meus princípios de coração de gelo, queria ter dividido ela contigo...

Mesmo que esse mecanismo de defesa covarde que adotei tenha preferido se calar e não criar expectativas, escolhido só te imaginar... eu ainda assim te queria lá. 

E outra vez, acabei por fugir, escolhi te eternizar nessas minhas palavras mesquinhas por medo de não conseguir fingir de novo que aqui dentro definitivamente nada existe. Por receio de te deixar saber o que não sei se quero sentir.

... mas, se por via de insanidade minha essa baboseira eu te mostrar... ´

saiba que a lua ainda é interessante de ser observada em qualquer uma de suas fases.

(Gabrielle Roveda)

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