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Leia escutando Salt Water - Ed Sheeran |
13 julho 2023
FOI NO SILÊNCIO QUE TU ME GANHOU
09 julho 2023
TAL QUAL PLUTÃO
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Leia escutando To Good At Goodbyes - Sam Smith |
te faço poesia sem permissão alguma, perdão
te internalizo entre versos descontextualizados que só eu entendo
faço arte com a lembrança que carrego no peito da tua voz rouca e pincelo em aquarela planetas distantes com teu rosto num universo infinito o qual não alcanço
retrato estrelas, constelações e detalhes minúcias que da tua imagem nunca consigo esquecer
teu sorriso de canto tal qual sol da via láctea, centro gravitacional que me atraí para ti
te construo galáxia no meu mundinho sem sal como se tu feito astronômico pudesse de fato me deixar orbitar
mas não orbito, seja por teimosia ou receio
não desacoplo desse eu distância que inventei de mim
sou feito astronauta, ando perdida em gravidade zero bem longe de casa
luto para retornar à estabilidade enquanto o alerta de oxigênio apita sem descansar entre uma tosse e outra
bip... bip... bip...
a garganta seca, os olhos marejados
encaro o horizonte através do capacete num lapso de suicídio mental querendo, na verdade, não partir dessa ilusão
o vidro desfocando pela fumaça tragada por pulmões desgastados, a paranoia constante se esvaindo em pensamentos interligados que já não fazem mais sentido
a chuva e o vento em redemoinhos dentro de mim marcando o êxtase das borboletas na tua ausência
me refaço planeta atmosférico e revivo outra vez
sobrevivo
aterrizo na minha sarcástica zona de conforto desconfortável
recorro ao mundo real, àquilo que desconheço e finjo entender
aterro meus pés nesse chão caótico familiar demais
estou em casa outra vez, mas não queria estar
a cama vazia, o pó acumulando nos livros, o cheiro de incenso de canela pairando no ar, o vidro embaçado enquanto o úmido da noite lentamente se transforma em mofo bem diante dos meus olhos
o mesmo quarto calado, o mesmo cárcere humano
sinto tua falta a aquecer meus pés gelados e talvez o coração
mas teu eu me é caminho longo, viagem interestelar
tal qual plutão
distante...
questionável...
talvez frio demais para poder existir
(Gabrielle Roveda)
01 julho 2023
CARTA ABERTA À MINHA ANSIEDADE
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Leia escutando: Welcome To The Jungle - Guns N' Roses |
Eu te tenho. Não como algo intrínseco.
Te tenho numa relação de posse, a qual eu muitas vezes não sou o lado dominante.
E quando estamos no ápice do nosso relacionamento eu perco a vez, minha vida se torna um longo espasmo incontrolável. Sou totalmente submissa a tua vontade insaciável de preencher um algo inventado que talvez, e provavelmente, não exista.
Fico a mercê do que tu inventa. Do teu universo de fantasias e possibilidades infinitas no qual não me encaixo, mas insisto em tentar pertencer.
Um universo teu que não faz sentido pra mim, mas se torna um ideal do qual luto com afinco sem nem saber os exatos porquês.
É que tu me infiltra no teu oceano caótico enquano eu remo um barquinho de papel frágil ao mínimo golpe de uma gota.
No entanto, eu permaneço. Firme e forte tal qual um navio cargueiro.
Como se entre elevações monstruosas precisasse sobreviver, como se um eu capitão tomasse conta de mim.
Levantar âncora!
Encaro a chuva torrencial, os raios...
A escuridão... O céu e o mar unidos em tons de cinza...
Olho para os fantasmas que se formam entre o quebrar das ondas.
Revejo os danos a bombordo, as cicatrizes a estibordo.
Temo as suposições que batem de frente com a proa.
Aconchego os medos que continuam aterrorizando a popa.
Por quê? Não sei, talvez nunca saiba.
Fico à deriva como um fantoche.
Te deixo fazer de mim o que tu quiser com um manto na parede da consciencia, como se o que tu me sussurra no ouvido fosse a única verdade do mundo.
Embora eu saiba que não.
Embora eu insista em te negar.
Tu me preenche por completo e depois vai embora. Deixa a catástofre de um furacão que surgiu com a mesma breviedade com que desapareceu.
O chão fica sujo, o rastro bagunçado...
E eu nunca sei por onde re-começar.
Nunca é do zero que eu parto, volto algumas casas, o início vem do negativo, do que antecede o zero.
É sempre um inferno quando te percebo me consumir e sumir assim.
Tu me deixa um vazio.
Um vazio que eu não consegui preencher. Que já nem quero mais ocupar.
Um estranho e desconcertante sei lá pra todas as perguntas sem respostas.
É que tu se preenche em mim e de mim sobra sempre tão pouco.